sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

AFINAL, QUE EVANGELHO É ESSE?

Pr José Infante Júnior


INTRODUÇÃO
Mudanças aconteceram no mundo muito rapidamente. Em todas as áreas. Tudo muito rápido, ligeiro. Aconteceu o surgimento da geração “micro-ondas”. Tudo rapidinho.

Infelizmente, inserido neste contexto de mutações, os evangélicos também mudaram, e muito. Aliás, como citou alguém, “o mundo pouco mudou porque os evangélicos mudaram muito.” Degenerou a ponto de não mais “transtornarem o mundo” e, tristemente (mas profetizado), ser transtornado pelo mundo.

É claro que tais evangélicos pregam “um outro evangelho” inspirado por “um outro espírito” anunciando “um outro Jesus” (2ª Cor. 11:4). Sem comprometimento e sem cruz. Evangelho fácil e sem renúncia. Promete o céu sem o “caminho estreito”. O homem ocupa o centro do “culto”. É o “evangelho” do “é proibido proibir” e “não tem nada a ver”. Evangelho sem cruz. Apóstata, irreverente e inspirado pelas potestades das trevas..

Ao mesmo tempo em que entristece ver a mente do anticristo já profanando os cultos no arraial cristão, consola-nos a aproximação do arrebatamento dos salvos, pois está escrito:

“Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.” (2 Ts. 2:3,4).

Assim como a humanidade vem sendo preparada para “dar crédito à mentira”, a Igreja foi cedendo às imposições do mundo e, com isso, abrindo as portas ao “evangelho” da Nova Ordem Mundial. Isso nos leva a compreender o porquê do surgimento de tantas novidades dentro de muitas igrejas. O evangelho apóstata transformou o culto em show de religiosidade.

O saudoso evangelista Wim Malgo, sobre o namoro da Igreja com o mundo,escreveu: ...Com horror vemos muitas igrejas desmoronando do ponto de vista espiritual. Pois, de que outro modo a maldita teologia moderna poderia ter penetrado em nossas igrejas? Ou não crês que é obra dos demônios... pessoas nos púlpitos, pregando, apesar de não crerem mais que a Bíblia é a Palavra de Deus, e que negam a ressurreição de Cristo?... Evangeliza-se trazendo “especialistas”, pretendendo-se que eles reanimem a vida da Igreja, mas não existe poder para o renascimento.(...) Atualmente o Senhor é muito procurado (Is. 58:2), mas há pouco poder para o renascimento...(ORAÇÃO E DESPERTAMENTO - pg. 66 - autor citado).

É interessante observar que a obra citada foi escrita em 1972. De lá até agora o terreno foi sutilmente trabalhado por Satanás. Os desafios missionários e as pregações sobre santidade, inferno e a volta de Jesus Cristo foram banidas da Igreja apóstata. O essencial é não incomodar as pessoas confrontando-as com a vida pecaminosa condenada pelos Escritos Sagrados. Para os pregadores do “outro evangelho” não interessa os meios desde que haja “casas lotadas”. O triste resultado é um rebanhão sem identificação com o Supremo Pastor. O rebanhão da cruz de isopor.

Pensando neste assunto de tremenda importância escatológica, vamos buscar na Palavra de Deus a resposta à pergunta afinal, que evangelho é esse(?!) - que perdeu a visão da volta de Jesus e amigou-se com o mundo e seus padrões?!

I. É APRESENTADO NO PÚLPITO
O surgimento de “outro evangelho” trouxe consigo “outros pastores”. Melhor dizendo, “cães mudos”, como os denunciou Isaias e João (Is. 56:10,11 e Ap. 22:15).

Uma Igreja não muda da noite para o dia, embora as mudanças atualmente sejam rápidas. Uma nova geração de obreiros mais interessados em atrair massas, não importando os meios, tem se levantado contra “as santas tradições que nos foram ensinadas por palavras ou epístolas” (2 Ts. 2:15), apregoando novos métodos de culto e evangelização. São os pregadores novidadeiros. Sempre apresentam novidades para manter o “rebanho” entretido. Não há compromisso. Uma pregação sem cobranças é facilmente “degustada”. A Igreja incha. Poucos fiéis inconformados, ou se retiram ou são colocados de lado. São ultrapassados, segundo os pregadores modernos. Tradicionais, conservadores que exalam “cheiro de naftalina” (como alguns já foram epitetados), atrapalham o “crescimento” (inchação) prometido pelo “outro evangelho”. As divisões são inevitáveis. Os escândalos também. Púlpitos, outrora trincheiras contra o pecado, hoje são destituídos de poder e cenário para anedotas, “sopros poderosos”, “revelações bombásticas” (totalmente carnais para promover o ego do “revelador”), promessa de prosperidade e “apólice” contra doenças . Um evangelho que não condena “as iguarias do mundo”.

A grande verdade é que estamos dentro de uma “falência doutrinária” – apostasia – que está produzindo insensibilidade e superficialidade. Preciosas linhas foram publicadas no Jornal Batista (6/5/07), que considero uma ultra-sonografia do espantoso quadro hodierno.

...Assim, em nome da paz, do politicamente correto, verifica-se: 1) Cristãos aceitando o homossexualismo como natural; 2) Cristãos optando por darem ou não o dízimo, de participarem ou não das ofertas; 3) Cristãos compactuando com a imoralidade; 4) Cristãos vendendo o evangelho como produto de feira: barato, com garantia e, se o cliente quiser, ainda se emite uma nota fiscal; 5) Cristãos não comprometidos com a evangelização, com a oração, com o discipulado...”(Pr.Darlyson Feitosa).

O quadro é desolador, porém profético. Paulo, sobre tais dias escreveu: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” (2 Tm. 4:3,4). Ainda sobre assunto de tamanha importância escatológica, o mesmo apóstolo vaticinou: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência;” (I Tm. 4:1,2).

Assim, pelos Escritos Sagrados, compreendemos o surgimento de tantos “falsos mestres” divulgando um “outro evangelho” e um “outro Jesus”, com sinais operados por um “outro espírito”.

O declínio do cristianismo é visível. A falta de mudança na vida dos homens se deve, em parte, pela mudança radical dos evangélicos. Para pior, infelizmente. Às vezes me vejo pensando se um mártir do evangelho de Cristo, permitido lhe fosse ressuscitar e passar alguns dias neste mundo visitando igrejas, o que pensaria ou sentiria ele? Que mensagens ou cânticos penetrariam nos seus ouvidos? Choraria tocado pelas verdades que o levou a morrer por Jesus ou choraria de vergonha diante do que veria e ouviria ? Creio que choraria, choraria muito, vendo um evangelho mundano “entretendo bodes” apregoado por “pastores que a si mesmos se apascentam” (Jd. 12).

Um importante trecho escrito por John Mc Carthur é o fiel retrato do cristianismo sem cruz.

“Há milhares de igrejas...que não querem ouvir a sã doutrina. Não agüentariam, por duas semanas, um ensino bíblico firme que refutasse seus erros doutrinários, que confrontasse o seu pecado, que lhe trouxesse convicções e as exortasse a obedecer a verdade. Não desejam ouvir pregação sadia. Por quê? Porque os que se encontram nas Igrejas desejam possuir a Deus sem abrir mão do seu estilo de vida pecaminoso; por isso não toleram que alguém lhes diga o que a Palavra de Deus declara a esse respeito.

Então, o que desejam eles ouvir? “Cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (2 Tm. 4:3). Ironicamente, eles procuram mestres. Escolhem mestres que lhes ensinem o que desejam ouvir, ou seja, aquilo que satisfaz a coceira de seus ouvidos... Ajuntam ao redor de si uma porção de professores que satisfazem seus apetites insaciáveis e egoístas. O pregador que traz a mensagem que mais necessitam ouvir é aquele que eles menos gostam de ouvir.

Infelizmente pregadores com mensagens que satisfazem as coceiras nos ouvidos são abundantes em nossos dias. “Em épocas de fé instável, de ceticismo e de mera especulação curiosa em relação aos aspectos espirituais, mestres de todo tipo proliferam, tal como as moscas da praga no Egito. A demanda gera o suprimento. Os ouvintes convidam e moldam os seus próprios pregadores. Se as pessoas desejam um bezerro para adorar, o ministro ‘que fábrica bezerros’ logo é encontrado”.

Esta avidez por mensagens que agradam a coceira nos ouvidos conduz a um final terrível. O versículo 4 diz que, por fim, essas pessoas “se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas”... A frase ‘se recusarão a dar ouvidos’ está na voz ativa. Isto significa que as pessoas deliberadamente escolhem essa atitude. A frase “entregando-se às fábulas” está na voz passiva, descrevendo o que acontece a elas. Tendo dado as costas à verdade, tornam-se instrumentos de Satanás. A ausência de luz são trevas.

Isso está acontecendo na Igreja contemporânea... A Igreja flerta com os mais graves erros doutrinários. Os cristãos buscam imprudentemente a revelação extra-bíblica na forma de profecias e sonhos. Os pregadores negam e ignoram a realidade do inferno. O evangelho moderno promete o céu sem uma vida de santidade. As igrejas ignoram o ensinamento bíblico acerca do papel da mulher, do homossexualismo e de outras questões sensíveis. Os recursos humanos substituíram a mensagem divina...

Observe novamente a frase-chave do versículo 3: “Como que sentindo coceira nos ouvidos”. Por que não suportam a sã doutrina? Por que se cercam de mestres e voltam às costas para a verdade? Porque no seu íntimo o que pretendem é satisfazer a coceira de seus ouvidos. Não querem ser confrontados. Não querem sentir convicção de pecado... Desejam sentir-se bem. Querem satisfazer a coceira de ouvidos ouvindo anedotas, psicologia, palestras motivacionais, estímulos, pensamento positivo, auto-satisfação e sermões que fortalecem o ego. Correção, repreensão e exortação bíblicas são inaceitáveis.

Mas a verdade de Deus não faz cócegas em nossos ouvidos; ela esbofeteia nossos ouvidos. Ela os queima. Primeiramente, ela corrige, repreende e traz convicção; depois, ela exorta e encoraja. Os que pregam a Palavra precisam ter o cuidado de manter esse equilíbrio.

Em João 6, após Jesus ter pregado um sermão bastante severo, a Bíblia nos diz: “À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele” (v.66). Enquanto as multidões se retiravam, nosso Senhor voltou-se a seus discípulos e perguntou: “Porventura, quereis também vós outros vos retirar?” (v. 67). A resposta de Pedro, em nome dos demais apóstolos, é significativa: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna” (v. 68). Esta é a resposta correta. Revela a diferença entre os verdadeiros discípulos e os demais: a fome pela Palavra. Jesus afirmou: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos” (Jo. 8:31). Pessoas que buscam ser entretidas e gente que apenas segue as multidões não são, de forma alguma, discípulos verdadeiros. Os que amam a Palavra são os verdadeiros seguidores de Cristo. Esses não desejarão ouvir pregadores que cocem seus ouvidos” (COM VERGONHA DO EVANGELHO - pp 35 a 37 – autor citado).

A apostasia é um dos maiores sinais de que o arrebatamento está às portas. Jesus disse: “voltando Ele, acharia fé na terra?” O que nos consola diante da tristeza causada pelo “evangelho que diverte bodes”, é sabermos que o “Bom Pastor” virá buscar “as ovelhas do seu pastoreio”. Ora vem, Senhor Jesus!

II. É APRESENTADO NO SISTEMA DE CULTO

Através do que leio e ouço de crentes perplexos, coisas absurdas estão sendo introduzidas na ordem dos cultos. Coreografias, música e instrumentos estridentes, somados a outros ingredientes estranhos, enseja a pergunta: Afinal, Que Evangelho é Esse?

O diálogo entre Deus e Moisés no alto do Sinai foi interrompido bruscamente. O profeta estava recebendo as devidas instruções - através dos mandamentos divinos - de como deveria ser o culto ao Santo de Israel. Enquanto isso, aos pés do monte, o povo cultuava um bezerro com “sonidos estranhos”. Disse o Senhor: “...vai, desce; porque o teu povo, que fizeste subir do Egito, se tem corrompido, e depressa se tem desviado do caminho que eu lhe tinha ordenado; eles fizeram para si um bezerro de fundição, e perante ele se inclinaram, e ofereceram-lhe sacrifícios, e disseram: Este é o teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito.” (Ex. 32:7,8).

Como poderia o Senhor prosseguir orientando um povo que “se corrompeu e, depressa”, passou para “outro deus” e “outro culto,” se deixando levar por “outro espírito”? Aconteceu uma interrupção imediata. É o que tem acontecido no chamado “arraial evangélico”. Há um “bezerro” e um sistema de culto com “alarido estranho”.

Afastado do acampamento e aguardando o profeta num determinado local do monte Sinai, Josué, logo que encontrou Moisés, disse: “Alarido de guerra há no arraial. Porém ele respondeu: Não é alarido dos vitoriosos, nem alarido dos vencidos, mas o alarido dos que cantam, eu ouço.” (Ex. 32:17,18).

Era costume entoar cânticos de vitória quando vitoriosos. No caso de derrotas ou sofrimentos, entoavam cânticos de lamentações. Naquele momento era, como logo foi percebido pelo profeta, um cântico estranho a Deus e aos verdadeiros adoradores.

Quando coisas estranhas vão acontecendo no “lugar santo”, tristemente o Senhor se retira. Saindo o verdadeiro, imediatamente o falso toma conta. O triste resultado da mescla igreja-mundo é a perca da visão dos assuntos do céu: missões, volta de Cristo e o culto de adoração ao Deus Santo por um povo santo. O sábio escreveu: “... por falta de visão o povo se corrompe” (Pv. 29:18). Sem a revelação profética de Deus (tudo está na sua Santa Palavra) o povo perece e facilmente dá crédito ao engano “adorando bezerros”.

O sistema de “culto ao bezerro” leva ao bizarro. As igrejas começam a abraçar excentricidades... e coisas absurdas acontecem. A reverência acaba diante da chocarrice e “novidade de moda” (não de vida). Li sobre uma senhora que, inconformada com sua Igreja, que aderiu aos meios de um “outro evangelho”, queixou-se com tristura: “quando é que a Igreja vai parar de tentar entreter os bodes e voltar a alimentar as ovelhas?” (de um recorte da Internet). Tal afirmativa diz tudo sobre o “culto” apresentado pelo “outro evangelho”.

Sabemos que tudo tem um começo. O envolvimento de uma igreja por “alarido estranho” principia com a música. Costumo dizer que a música é o “carro-chefe” da apostasia. Aos poucos, sutilmente e fantasiada com uma piedade estranha, corinhos destituídos de valor bíblico doutrinário vão ocupando maior espaço na liturgia do culto. Acusa-se o “velho hinário” de ultrapassado e sonolento. As lutas e lágrimas que nos legaram os mais belos hinos da fé cristã são totalmente desprezadas, ignoradas e desterradas da grei. A “moçada” exige o “período de louvor”. É mais “entusiasmado”. A maioria dos pastores (há exceções, graças a Deus), para não entrar em choque com famílias ou porque querem “casa cheia”, aceita a tese dos jovens e, assim, a “batucada” tem início com conjuntinhos que logo introduzem as palmas, bateria, atabaques e tudo o mais que o “outro evangelho” oferece.

Alguém, num passado não muito distante, afirmou: “estas coisas atraem a juventude”. Mas foi o Senhor Jesus Cristo quem disse: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.” (Jo. 12:32). É somente Jesus quem atrai. Se numa Igreja Cristo não mais atrai, infelizmente ela o trai. Duríssima verdade ... crudelíssima realidade.

Sobre este assunto de música e louvor, há uma interessante resposta de Dave Hunt, publicada no Jornal Chamada da Meia-Noite - edição de março/2002. Alguém perguntou sobre os “corinhos repetitivos e de pouco conteúdo, que, supostamente, promoveriam adoração”. O leitor manifestava-se perturbado vendo a situação de sua Igreja sendo envolvida cada vez mais pelo “tempo de louvor”.

A resposta de Dave Hunt foi muito elucidativa e edificante. Disse ele: Muitas vezes fico aflito quando uma “equipe de louvor” de uma Igreja dirige a congregação cantando corinhos superficiais e repetitivos sobre adoração, mas sem adoração de fato. Meu coração fica angustiado por causa da pobreza espiritual daqueles que tão seriamente repetem palavras como “viemos te adorar..., te damos graças..., amamos louvar-te..., adorar-te..., elevamos o teu nome e etc.

Adoração não consiste de palavras sobre adoração, mas sobre o Senhor. Louvar não é dizer “nós te louvamos”. Ele é o que Ele revelou - o que Deus é e faz é que nos leva a nos curvarmos diante dele, maravilhados e em adoração. Isto é algo que falta muito nos hinos contemporâneos.

Serão as melodias atraentes que fazem com que muitos grupos substituam os antigos hinos - tão ricos na sã doutrina, que evoca verdadeiro louvor e adoração - por canções superficiais e repetitivas? Consideremos as seguintes linhas de dois de muitos hinos semelhantes, que foram impensadamente abandonados. As palavras adoração e louvor não aparecem, mas em ambos, nossos corações se prostram em adoração:


Amavas-me Senhor, no tempo em que imolado

Foi numa cruz sangrenta o meigo Salvador,

Levando sobre Si, sim, todo o meu pecado,

O Santo de Israel, o teu Cordeiro amado.

Meu Deus, que amor!

Meu Deus, que imenso amor! (Hino 20 CC).


Ó fronte ensangüentada com chagas e com dor,

Ó fronte coroada de espinhos: meu Senhor!

Ó fronte outrora ornada de eterna glória e luz,

Agora desprezada, saúdo-Te, Jesus!

O que tens suportado, foi minha própria dor;

Eu mesmo sou culpado de Tua cruz, Senhor.

Ó, vê-me aflito e pobre, castigo mereci,

Com Tua graça encobre o mal que cometi.


Lamentavelmente muitos dos jovens cristãos de hoje - inclusive os participantes das “equipes de louvor”- não ouviram palavras comoventes como essas e, como conseqüência, encontram-se espiritualmente desnutridos.

E, evidentemente, deve haver uma pausa nos cânticos para que os presentes elevem ao Senhor, em suas próprias palavras, o seu louvor, adoração e ações de graças que brotam de seu coração. Entretanto, a concepção atual de adoração parece ser: uma incansável repetição de canções cujas letras têm pouco conteúdo, e, muitas vezes, quanto maior o volume de som, melhor. Precisamos de tempo para pensar - e precisamos que nos seja apresentado um conteúdo digno de profunda reflexão” (autor e fonte citados).

A música produzida pelo arraial evangélico atual (repito, para enfatizar bem, que há benditas exceções) é fruto do que se entende por “Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.” (Is. 6;3). Uma grei é aquilo que canta. Se o conhecimento da santidade de Deus é real no coração da Igreja, a música que canta há de expressar tal fato. Se a grei ignora a essência que fez “tremer e fumegar o Sinai”, a música não será afinada com o caráter e santidade do Altíssimo. Cantar samba, rock, pagode, rap e outros ritmos irreverentes a pretexto de “louvar a Jesus”, é, no mínimo, total falta de “Examinai as Escrituras” (Jo 5:39). Jesus foi contundente: “errais por não conhecerdes as Escrituras...” (Mt. 22:29). Isolar versos para apoiar o que gosta é incorrer em graves erros doutrinários. É tão somente falta de temor a Deus. Em muitos casos... falta de conversão.

A grande verdade que se evidencia nesse contexto é o ódio do diabo ao “som solene”. Satanás quer acabar com os hinos que perturbam o inferno. Quer ver a Igreja se identificando com o mundo, cantando músicas que em lugar de fazer o inferno tremer, fazem os “demônios dançarem”. Músicas que mexem com o corpo e não tocam o coração.

Pensemos em Jesus após ter participado da última ceia com os discípulos. O que fez Ele? Vejamos o que diz o texto sagrado: “E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras.” (Mt. 26:30). É interessante observar que Jesus cantou com os discípulos um hino de louvor.Numa rápida reflexão sobre a santidade de nosso Senhor e transportando aquele fato para os nossos dias, cabe uma pergunta: se fosse hoje, diante do que estamos presenciando, que tipo de hino Jesus cantaria numa Igreja? Rock, samba ou “pop gospel”? É para pensar, tão somente pensar. Certamente o Santo Cordeiro do Deus Altíssimo cantaria um hino identificado com o seu perfeito caráter. Hinos que assombram as trevas e as suas potestades malignas. Hinos que falam ao coração daqueles que, pelo Espírito Santo, têm discernimento para identificar a música de Deus. Ela é inconfundível. Som solene e mensagem edificante. Traz consolação e alívio ao coração.

Hoje, produto da apostasia escatológica, o profano vai tomando conta do lugar santo, impondo uma música irreverente incitada por “outro espírito” que é fruto do “outro evangelho”. A profanação é real e os estragos também. Poucos pastores que se levantam contra tal afronta acabam , por maioria dos jovens e pais dos mesmos, sendo colocados para fora. Há, também, não se sabe até quando (Cristo precisa voltar logo!), os que estão preservando os valores do culto bíblico oferecido ao Altíssimo. É uma luta constante. Sem tréguas. Exige vigilância, oração e intrepidez. Só pela misericórdia de Jesus Cristo ainda se pode lutar contra aqueles que insistem em servir o “santo alimento da palavra de Deus” em penicos. É isso mesmo, penicos.

O Pr. Lourinaldo P. Araújo (missionário no Timor Leste) escreveu um folheto maravilhoso que revela bem o quadro do “outro evangelho” e seu sistema de “culto”. Tremenda verdade no referido escrito. É intitulado O BANQUETE NO PENICO. Leia e, de coração aberto, medite, medite bem no assunto, à “luz da candeia”:

“Queridos irmãos em Cristo, escrevi este artigo movido por profunda tristeza no coração, pelos estragos que tenho visto no meio evangélico causados pelo “Movimento Gospel” e pelos chamados “Roqueiros Cristãos”.

A situação em que se encontra o que deveria ser o louvor a Deus em várias igrejas chamadas evangélicas, faz-me lembrar de uma história que ouvi no final da década de 80, que contarei a seguir.

O pastor de uma igreja estava muito perturbado em seu espírito, por causa das músicas barulhentas, com ritmos mundanos, que o grupo de louvor estava introduzindo naquela igreja. Com muita “criatividade” eles colocavam textos bíblicos em ritmos irreverentes, e outras vezes pegavam música mundana, mudando somente a letra, que ficava, às vezes, totalmente completa de versículos.

O pastor, sendo um homem de Deus, zeloso pelo seu rebanho, procurou mostrar aqueles “irmãozinhos” que tal pratica era incorreta e inconveniente. Mas aqueles irmãos alegavam que toda música é de Deus e, portanto, podiam louvar a Deus com o rock, o samba, o axé, o pagode e qualquer outro ritmo, desde que colocassem uma mensagem de louvor a Deus em tais ritmos.

Naquele impasse, o nosso Deus que não desampara aqueles que O levam a sério, deu uma excelente idéia ao pastor: ele daria um grande banquete servido em penicos, para o grupo de louvor da sua igreja.

No dia marcado, quando todos os convidados chegaram para o banquete, o pastor conduziu-os a uma espaçosa sala, onde os mesmos depararam-se com uma farta e apetitosa mesa de alimentos, mas tudo servido em penicos, até mesmo no lugar dos pratos estavam dispostos penicos menores, para que os convidados se servissem neles. Todos ficaram chocados e chateados com a ofensa do pastor. Enquanto ele saiu um instante da sala, alguns comentaram que aquilo era uma brincadeira de muito “mau gosto” que um pastor não devia fazer. Onde já se viu oferecer um banquete a convidados em repulsivos penicos! Chegando o pastor, começou a tranqüilizar seus convidados, dizendo que a maioria dos penicos eram novinhos, e que alguns poucos que foram usados, tinham sido lavados cuidadosamente. Afinal comer em pratos era algo tão tradicional, que ele resolvera fazer algo diferente, para quebrar preconceitos e inovar um pouco a maneira de se fazer um banquete. Como ninguém aceitou as explicações do pastor, ele então usou o argumento que tinha preparado, dizendo: Vós tendes servido o santo alimento da Palavra de Deus em ritmos inconvenientes, sujos e profanos, e querem que Deus e os salvos, aceite-os, engula tudo sem reclamar! Por que pois não quereis o meu banquete em penicos? Porventura não estais acostumados a praticar tais aberrações? E aquele pastor com essas e outras palavras de sabedoria de Deus, mostrou a incoerência daqueles que deturpavam o louvor em sua igreja.

Queridos irmãos, o louvor a Deus é coisa séria, e tem que ser servido como banquete espiritual, em salmos e hinos e cânticos espirituais (não carnais), que são os santos utensílios que Deus mesmo escolheu para o seu louvor (Cl. 3:16). O rock, o happy, o pagode, o samba, o axé, o funk, o olodum e outros ritmos semelhantes, são como penicos profanos para Deus, e não servem para conter a Sua mensagem. São profanos porque foram criados para promover irreverência, imoralidade e até mesmo o culto aos demônios, visto que muitos desses ritmos vieram dos rituais pagãos de invocação aos demônios. Por que alguns insensatos insistem em tomar penicos usados pelo diabo para servir a mesa de Deus? Aceitaria ele tal aberração? É certo que não!

Para que as igrejas engulam este “louvor esdrúxulo”, os chamados “roqueiros de Cristo” assumem uma falsa fachada espiritual e dizem: “temos que quebrar tradições ultrapassadas. Precisamos de inovações”. Eu digo: ... deturpar não!

Esses deturpadores de louvor são tão sem criatividade, que não são capazes nem de criar um novo ritmo decente e reverente para o louvor a Deus. Só sabem imitar aquilo que há de pior no mundo. São meros plagiadores (imitadores) daquilo que tem deteriorado o mundo. A imitação tem sido tão extrema, que comparando fotos da banda Oficina G3 e outras que se dizem evangélicas, com as fotos de roqueiros da revista HEAVY (especializada em roque), percebemos que até o “visual” e os gestos arrogantes são copiados de roqueiros que defendem ideologias satânicas, como por exemplo, Iron Maiden. Será que estes nunca leram que o mundo inteiro jaz no maligno? (I Jo. 5:19). Será que não viram que Tiago 4:4 diz: “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.”.

Os que querem ser inconvenientes, que comam em seus penicos de ritmos profanadores, mas saibam que responderão pela imundícia que têm praticado diante de Deus. Em Campo Grande - MS - algumas mocidades de igrejas evangélicas denominam-se como “Galera de Cristo”. Galera é o nome dado a grupos de vândalos e baderneiros que praticam desordens e delitos sociais. Até nisso alguns insistem em emitir o lixo do mundo. Que incoerência!

A “Galera de Cristo” e a “turma gospel” dizem “abaixo os hinos; viva o louvorzão, o axé, o rock, o olodum, etc....” e eu respondo apoiado pela Palavra de Deus: “Abaixo a incoerência e o banquete no penico”. Que horror! Comem em penicos e dizem: é nossa nova proposta, é a modernidade.

A minha alma que sempre foi bem nutrida pelo puro alimento da Palavra, e bem servida em recipientes adequados, se revolve diante dos penicos que são colocados diante de mim.

Considerai com sobriedade o que digo. Penso eu que penicos não foram feitos para servirem banquetes, mas para outros fins considerados “um tanto escuso”; e, mesmo sendo novinhos, nunca serão adequados para se servir alimentos. Assim os ritmos que foram criados para incentivar os desejos carnais e o pecado, não deveriam ser usados para alimentar o povo de Deus. O louvor contaminado por ritmos que incentivam a imoralidade, drogas e até o culto a demônios, certamente produzirá uma geração de cristãos profundamente enfermos.

Alguns pastores, que sempre gostam de agradar a gregos e troianos antes do que a Deus, procuram apaziguar a questão dizendo tratar-se apenas de um “choque de gerações”. Contudo essa teoria é inconsistente para explicar o assunto, porque quando analisamos a prática de culto e louvor da chamada “nova geração”, à luz da Bíblia percebe-se que a mesma está se chocando contra as verdades bíblicas e o bom senso, e não apenas contra costumes da “velha geração”.

OS RESULTADOS DA DETURPAÇÃO DO LOUVOR

Quais são os resultados desses “novos louvores”? Seriam conversões verdadeiras? Edificação e santificação dos jovens? Temos provas suficientes para dizer que NÃO. Os ritmos profanos produzem exatamente aquilo para os quais foram criados: concupiscências carnais, irreverências e decadência moral. Para ilustrar isso, quero citar o exemplo de uma das primeiras “bandas de rock cristão” em MS, a qual foi responsável pela divulgação...do rock e outros ritmos mundanos nas igrejas evangélicas da região. A tal banda Selah, depois de desfrutar de grande popularidade, e espalhar muita irreverência com seus “shows”, a banda foi dissolvida por causa de brigas internas, adultérios e até mesmo (pasmem!) trocas de esposas entre os componentes do grupo; como me contou com tristeza, um irmão que participou do processo de dissolução do grupo. O escândalo causado pela “banda” foi grande decepção e surpresa para muitos, mas não para mim. Afinal, há alguns anos atrás, eu li a entrevista de um roqueiro americano, o qual declarou: “O rock tem como objetivo incentivar o amor (imoralidade), a irreverência e a rebelião contra o sistema” (autoridades, pais, etc...). Querido irmão, se um roqueiro fala que esses são os objetivos do seu estilo de música, como eu ofenderia a Deus colocando-o dentro da Igreja do Senhor?

Num SBT-Repórter saiu uma reportagem sobre a violência jovem no Brasil, onde um roqueiro falou que algo misterioso acontecia com ele quando ouvia tais ritmos, e ele sentia-se impulsionado à violência, como se quisesse “arrebentar o mundo”. Essa linguagem é inconveniente porque foi copiada daqueles que se dedicam a Satanás, e não convém àqueles que se dizem discípulos de Cristo.

Aqueles que estão fazendo banquetes em penicos (shows) em nossas igrejas, têm argumentos bonitos e certa aparência de piedade, contudo o seu fim será certamente desastroso, porque quem começa trocando pratos por penicos, é porque perdeu todo bom senso e coerência cristã, e acabará praticando aberrações maiores, amparados pelo falso argumento: “não tem nada a ver”.

Tenho um exemplar da revista HEAVY (outubro /1986), onde o roqueiro Tony Parsons já dizia (blasfemando) a seguinte afronta a Deus: “SE DEUS NÃO DESTRUIR O MERCADO DO ROCK, ELE DEVE DESCULPAS POR ESCRITO A SODOMA E GOMORRA”. O que o roqueiro estava dizendo, é que o mercado do Rock tem produzido mais podridão (homossexualismo, devassidão, etc) para o mundo, do que aquelas cidades que Deus destruiu por causa desses pecados. É extremamente lamentável ver o mercado de rock entrando em lares e em igrejas.

Queridos irmãos, nós jovens, merecemos coisa melhor do que os shows carnais e irreverentes que nos estão sendo oferecidos. Satanás quer destruir a vida dos jovens com esse louvor mundano. Ele sabe bem, e muito, as conseqüências danosas que conseguirá sutilmente com tais ritmos alucinantes que está infiltrando no meio cristão através do Movimento Gospel.

Os estilos de músicas extravagantes produzem estilos de vida irreverentes. Tanto é verdade, que nestes “shows evangélicos” é muito comum a presença de mocinhas com roupas indecentes, marcando o corpo e transparentes, fazendo requebros sensuais sob olhares carnais de “adoradores extasiados”. Mas o Senhor adverte em sua Palavra: “Ouvi a palavra do SENHOR, vós poderosos de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra. Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembléias; não posso suportar iniqüidade, nem mesmo a reunião solene” (Isaias 1: 10,13).

“Odeio, desprezo as vossas festas, e as vossas assembléias solenes não me exalarão bom cheiro. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas” (Amós 5:21,23).

Muitos continuarão tocando suas profanações, afinal, a Bíblia diz que haveria apostasia nos últimos tempos, mas eu e você, que conhecemos a verdade, não precisamos fazer parte dela! (I Tm. 4:1-2; II Tm. 3:4-5).

Os que levam Deus a sério devem dizer NÃO ao banquete no penico, à decadência e às profanações. Continuemos louvando com alegria ao Senhor da maneira que ele nos orienta em Sua Palavra: “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao SENHOR com graça em vosso coração. Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” como é conveniente aos santos de Deus (Cl. 3:16 e Ef. 5:19).

(Autor e fonte citados).


O Banquete no Penico diz tudo. É o que, com tristeza afirmo, vem acontecendo em muitas formas de culto. São “maçãs de ouro” servidas em penicos. “Balidos de Amaleque”, estranho aos ouvidos dos servos de Deus e insultando a santidade de Jesus Cristo. Como já disse, se por um lado há a tristeza de ver o evangelho santo mangado pelo profano, há também, para consolo dos salvos, as preciosas palavras do Senhor: “Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima.” (Lc. 21:28). Assim, biblicamente, é necessário que tais coisas aconteçam. Todavia, como nos ensina a Palavra, é necessário “Clama em alta voz... o que convém à sã doutrina.” (Is 58:1 - Tt 2:1), para ver se, ainda, diante do panorama apóstata que vai grassando muitas igrejas, algumas atendam ao apelo do “Noivo”: “Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres.” (Ap. 2:5).

A cada dia que passa o “outro evangelho” vai ganhando espaço. O culto solene e de grande edificação à Igreja na glorificação do nome de Jesus Cristo, vai cedendo lugar às novidades mundanas inspiradas por “outro espírito”. Coreografias e bailarinas de Cristo, somadas a outras atrações carnais vão, estimuladas por pregadores modernistas, “removendo marcos antigos” e produzindo um “rebanhão” sem compromisso com o Deus vivo. Afinal, Que Evangelho é Esse?

À tal pergunta, uma resposta extraída do site do fundamentalismo bíblico: “Nos Estados Unidos, já tem igrejas promovendo lutas de boxe antes dos cultos para atrair mais adeptos. Outra Igreja mandou colocar em seu templo, todos os efeitos especiais de um cassino de Las Vegas para manter a nova clientela. Uma Igreja de São Paulo(...) além de fazer todo o auditório dançar, mantém na plataforma do templo quatro dançarinas, dançando de modo semelhante...as dançarinas dos programas de auditórios. Tem dona de Boate... se dizendo evangélica” (fonte citada).

Este é, sem dúvida alguma, o sistema de culto do “outro evangelho” inspirado por “outro espírito” à adoração de um “outro Jesus”.



III. A IRREVERÊNCIA DOS ADEPTOS DO OUTRO EVANGELHO

A Timóteo, sobre “os tempos difíceis”, Paulo fala de uma geração “profana e irreverente”. Como não poderia deixar de acontecer, tal irreverência adentrou no chamado “arraial evangélico”. Os “novos crentes”, gerados por “outro espírito”, introduziram novos métodos para “removerem os antigos limites” da sã doutrina. E, é bíblico, estão conseguindo. Os cultos cada vez mais são irreverentes. Multiplicam-se os shows dentro dos templos. A quantidade de adeptos do evangelho fácil vai aumentando e, com eles, uma geração que Paulo denunciou como “Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te... que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade... E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade. Não irão, porém, avante; porque a todos será manifesto o seu desvario, como também o foi o daqueles” (2 Tm. 3:5,7,8a,9).

A geração “Janes e Jambres” (magos do Egito que, com poderes das trevas, intentaram oposição a Moisés - conforme escritos judaicos) se rebela contra a sã doutrina. Mistura o sagrado com o profano. Não compreende que “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” (Tg. 4:4).

Assim, dentro deste princípio que norteia o “outro evangelho”, é possível encontrar jovens cantando em igrejas – anestesiados por um som estridente - com os seus piercings, tatuados e levando a platéia a um gingado carnal. Não há compromisso. Proliferam as roupas sensuais com pinturas “jezabelescas”, blusas decotadas e calças que defraudam expondo a “barriguinha evangélica”. Indiferença total aos preceitos bíblicos que condenam o abominável mundanismo. Sobre tatuagens, piercings e sensualismo a Palavra diz: “...nem fareis marca alguma sobre vós. Eu sou o SENHOR.” (Lv. 19:28b); “Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.” (I Pe. 1:16). Sobre vestes, Salomão e Paulo exortaram; “Como jóia de ouro no focinho de uma porca, assim é a mulher formosa que não tem discrição.” (decência; percepção moral) “...Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto...” (Pv. 11:22 - I Tm. 2:9a).

A irreverência dos adeptos do “evangelho light” chegou a tal ponto, que os incrédulos, diante de trios elétricos gospel e blocos carnavalescos denominados evangélicos, admirados afirmam: “é, já não se faz mais crentes como antigamente”. Tal afirmativa procede, pois o arraial evangélico mudou, mudou muito... para pior. É profético. Jesus disse: “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.” (Mt. 24:12). Graças a Deus, misericórdia divina, há um QUASE!

Para se ter uma idéia do alarmante acinte ao sagrado, transcrevo algumas notícias que vão ao encontro do que estamos abordando. Não se trata de sensacionalismo, pois o fato existe e é bíblico. Sirva, isso sim, para “despertar os que dormem” diante do momento escatológico que estamos vivendo. Sirva também, assim desejamos, para que muitos, ludibriados pelo evangelho sem renúncia, sejam tocados a “tomar a cruz” e seguir pelo “caminho estreito”. O dia do Senhor se aproxima. Será dia de juízo. Ainda há oportunidade de abandonar o falso e dar-se ao verdadeiro. Leia, atento, as notícias que transcrevo lembrando, tão somente lembrando, de que “Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas.” (Mt. 24:33).


Como Adão e Eva no paraíso. Integrantes das igrejas evangélicas descobrem que o naturismo também é uma forma de comunhão com Deus e vão à praia nus.

Este foi o titulo da matéria publicada pelo jornal O Dia, um dos principais no Rio de Janeiro, a respeito de alguns evangélicos que estão praticando o chamado naturismo. Tais “crentes” estão freqüentando praias de nudismo e - pasmem! - levando até mesmo a Bíblia! De acordo com o jornal, até mesmo “pastores se bronzeiam como vieram ao mundo nas praias freqüentadas por nudistas...”

O jornal diz, com ares de naturalidade, que o nudismo evangélico é uma idéia tão inovadora que muitos preferem o anonimato, como a líder de instituição pentecostal há 15 anos, Márcia, (...) que trocou o nome para não ser reconhecida por seus fiéis. A pastora se converteu ao naturismo (...) após visitar a praia Olho de Boi, em Búzios. ‘Me encontrei com o respeito e a pureza. Ser naturista é estar em contato pleno com o Senhor’, defende ela...” (extraído do Desafio das Seitas - 1º trimestre de 2003).

A princípio pensei em comentar este assunto. Todavia, depois de refletir mais, não é necessário comentário algum, pois como se lê, o fato fala por si. Assim agem os adeptos do evangelho sem compromisso. Todo aquele que se define como evangélico e não vê nada de

mais no naturismo, no rock para Jesus, samba e em novidades estranhas à sã doutrina ,creia, é um adepto do “outro Jesus”. O Jesus Cristo, unigênito de Deus, disse: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.”. (Mt. 7:21,23).


“Sou pastor e sou gay”. A afirmativa abominável é de um “teólogo” chileno (Revista Época) que, deturpando as Escrituras, procura justificar o homossexualismo. Sobre os tais profetizou Enoque, dizendo: “... Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos; para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele. Estes são murmuradores, queixosos da sua sorte, andando segundo as suas concupiscências, e cuja boca diz coisas mui arrogantes, admirando as pessoas por causa do interesse. Os quais vos diziam que nos últimos tempos haveria escarnecedores que andariam segundo as suas ímpias concupiscências. Estes são os que causam divisões, sensuais, que não têm o Espírito.” (Jd. 14 a 16, 18,19).

“Homossexuais serão ordenados pastores”. De um recorte de jornal (sem data) outra notícia sobre a deturpação do Sagrado. Entre outras coisas, a citada matéria diz o seguinte: Pela primeira vez no país, dois homossexuais serão oficialmente ordenados pastores (...). O local abriga a Comunidade Cristã Gay ... que pretende ser a primeira igreja homossexual do Brasil.

... Um casal de homossexuais vai participar da cerimônia. O pastor Neemias Marien... presidirá a ordenação.

...Vários membros da Comunidade Cristã Gay continuam ligados e freqüentando suas igrejas.

...Queríamos uma comunidade onde pudéssemos viver nossas vidas. Queremos o direito de entrar no templo de mãos dadas com os nossos namorados e de fazermos juntos nossas orações...”

A proliferação do homossexualismo - incentivado abertamente por novelas impuras impondo a inversão dos valores à sociedade - é fator de cumprimento da Palavra profética. Diante do número crescente de gays e o apoio de autoridades e simpatizantes, é cada vez mais festejado o dia da parada do orgulho gay. Já é parte do calendário turístico de muitas nações. Até em Israel. Um cartaz promovendo o evento mostra um casal gay se beijando, tendo ao fundo o Monte das Oliveiras.Tal fato nos leva às palavras de Jesus discorrendo sobre o final dos tempos: “Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma choveu do céu fogo e enxofre, e os consumiu a todos. Assim será no dia em que o Filho do homem se há de manifestar.” (Lc. 17:29,30).

Diante das palavras de Cristo, é claro o ensino de que, quando o arrebatamento dos salvos estivesse “às portas”, aumentaria o homossexualismo sobre a terra. Cartilhas estão sendo colocadas nas mãos das crianças ensinando-as a assumirem sua homossexualidade. Não dá nem para citar determinadas expressões dos tais “manuais”, pois até transcrevê-las é torpe. Bem disse o profeta Jeremias: “Porventura envergonham-se de cometer abominação? Pelo contrário, de maneira nenhuma se envergonham, nem tampouco sabem que coisa é envergonhar-se; portanto cairão entre os que caem; no tempo em que eu os visitar, tropeçarão, diz o SENHOR. Porventura envergonham-se de cometerem abominação? Não; de maneira nenhuma se envergonham, nem sabem que coisa é envergonhar-se; portanto cairão entre os que caem e tropeçarão no tempo em que eu os visitar, diz o SENHOR.” (Jr. 6:15 e 8:12).

Como já vos disse, causa tristeza o que o “outro evangelho” e seus adeptos estão fazendo em prejuízo ao evangelho santo. Porém, para consolo dos salvos, “é necessário que se cumpra a Escritura”.

CAMBALHOTA PARA JESUS. Os adeptos do evangelho estranho são novidadeiros. Gostam de novidades. Precisam delas. Para os tais, quanto mais novidade aparecer no “culto”, mais “avivamento” acontece. Esquecem-se eles que “avivamento não é descer a rua com um grande tambor; é subir ao Calvário em grande choro”, como disse Roy Hession. Não é o pensamento dos novidadeiros. Querem um evangelho barulhento. Apreciam gritarias. O emocional supera a razão e o espiritual. Vivem para dividir. Lançam os mais variados epítetos aos que, com oração e discernimento, lutam para “Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.” (2 Ts. 2:15). Infelizmente muitas igrejas estão sofrendo divisões oriundas da invasão do evangelho estranho. O Dr. Jeiel Ferreira de Souza, num pequeno artigo publicado pelo Jornal Batista em tempos idos, já naquela época mostrava como surgem as “porfias e divisões” no seio da Igreja, comandadas pelos “fervorosos crentes do outro evangelho”:

“Dois grupos de irmãos estavam numa igreja batista, disputando a primazia de exercer influência no programa de culto. Um desejava que a congregação continuasse, como vinha, cantando hinos de adoração e exaltação a Deus, com os coros e cantores entoando expressivas letras com apreciadas harmonias e agradáveis melodias. Outro queria que o culto se “renovasse”, que a congregação passasse uma a duas horas cantando “corinhos”, acompanhado por guitarras e baterias em alto volume, em ritmo de rock, com bateção de palmas e gingado no corpo. Torcia, também, para que o espírito colocasse no coração do pastor o desejo de não pregar a Palavra (o espírito que coloca no coração do pastor de não pregar a Palavra , não é o de Deus).

Em face dessas circunstâncias, começaram as rivalidades entre os aficionados das duas linhas de culto.

Num domingo, antes do serviço religioso, duas irmãs começaram, no vestíbulo do templo, uma calorosa discussão:

- Para louvar - dizia uma - eu canto, bato palmas, bato o pé, rebolo e até dou cambalhota para Jesus (grifo nosso).

A outra replicou:

- Quem foi que disse que Jesus precisa de suas cambalhotas? O que Ele quer é um coração quebrantado e contrito (Sl. 51:17) (autor e fonte citados).

O “outro evangelho”, quando não elimina a sã doutrina em uma Igreja e impõe os seus padrões de cultos irreverentes, certamente a divide. A especialidade dos grupos que defendem o evangelho sem cruz é, com certeza, dividir ou solapar igrejas que permanecem fiéis aos padrões bíblicos. As coisas vão acontecendo aos poucos, sutilmente. Grupos com “aparência de piedade” (normalmente jovens, com fala adoçada de falsa espiritualidade) vão se mobilizando pelos cantos da Igreja, fazendo reuniões de oração secretas a pretexto de acabar com o “tradicionalismo” da Igreja. Muitos pais (alguns líderes e diáconos) vão, por questão de sangue, aderindo as “novas idéias” que, segundo o grupo, vai “revolucionar” a igreja. E assim, dia após dia, o “fermento vai levedando toda a massa”. Lamentavelmente, então, chega o dia do choque inevitável. O escândalo acontece. A igreja é dividida ou começa a bater palmas, cantar rock, dançar e a deixar claro sua amizade com o mundo, infelizmente.

Fenômenos estranhos, palavras ininteligíveis, gritaria e etc., para os adeptos do “outro evangelho” são frutos de “avivamento”. É o que tem acontecido. As Escrituras advertem que “E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade.” (2 Pe. 2:2). É o que tem acontecido. É o final dos tempos!

Creio, diante dos exemplos já expostos, não ser mais necessário elucidar quem são os adeptos do “outro evangelho”. Ficou claro que não querem compromisso com Deus. São lobos com pele de cordeiros. São irreverentes... “Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.” (2 Tm. 3:4,5).

A irreverência chegou a tal ponto, que hoje, por incrível que pareça, há “igrejas com cinzeiros, cartazes “faça sexo seguro”, igrejas escondendo pedofilia, alcoolismo, divórcio, apostasia de elevados membros, igrejas com pastores divorciados e recasados, com boletim declarando “Deus não está mais interessado em virgindade... há jovens doentes por falta de sexo...” e citando Frei Leonardo Boff...” (Revista Fundamentalista da Fé - 02/01/03 - pg 17).

Para bem responder a pergunta Afinal, Que Evangelho é Esse?, basta simplesmente dizer que é um evangelho sem compromisso com Deus e, conseqüentemente, com a sã doutrina.É carnal e sem cruz. É o velho gnosticismo. Inimigo da grei de Cristo. Fazem muita programação com o objetivo de enfraquecer a Igreja, embora neguem o fato. Células, Encontros, Técnicas Explosivas etc., no fundo é o desejo de afirmar que a Igreja fracassou. Surge, depois de tais movimentos, um rebanhão que crê não ser necessário filiar-se à Igreja. Muitos membros, em decorrência destas “novidades”, deixam suas igrejas para “servirem” grupos novidadeiros. Normalmente, dando suporte a tais “técnicas de programação”, há grupos de “pescadores de aquários” visando o crescimento do rebanhão. O objetivo é alcançado, pois, como escreveu Paulo, há sempre os “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.” (Ef. 4:14).

Muitos pastores fiéis passam pelo sofrimento de “perderem” alguns membros por causa de tais movimentos. Por mais que uma Igreja seja bem doutrinada sempre vai se deparar com os insatisfeitos, os “Janes e Jambres” da vida.

Os tempos são difíceis. É o cumprimento da palavra profética de Paulo que, escrevendo a Timóteo e apontando (naquela época) para o futuro, disse: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.” (2 Tm. 3:1). Olhando o quadro feio do mundo e o panorama do “arraial evangélico”, será que existem dúvidas ser a nossa geração a testemunha ocular dos “tempos difíceis”?

Há uma Nova Ordem Mundial sendo planejada sutil e aceleradamente dominando a mente dos homens sem Jesus Cristo. É um plano mundial para o estabelecimento do reino do anticristo. Paralelamente, é necessário, cresce a necessidade de uma Religião Mundial que terá no “iníquo” o seu “deus”. É o dito antigo (diabólico) de que “todos os rios (religiões) correm para o oceano (Deus)” se tornando realidade através do ecumenismo. O “outro evangelho” conclama a união religiosa e descarta a doutrina da separação. É o “avivamento das trevas” inspirado pelo “deus deste século”. O movimento de “renovação católica” (R.C.C.) se expande juntamente com movimentos evangélicos (neopentecostal). Que evangelho um pentecostal pregará a um católico pentecostal? Como pode condenar o “espírito” da R.C.C se é o mesmo “espírito” que o leva a tal “segunda bênção”? Sutileza diabólica. É como escreveu Paulo apóstolo: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” (2ª Tm. 4:3,4).

Enfim, enquanto proliferam palmas no culto, línguas estranhas, teologia da prosperidade, shows com música gospel, louvorzão, pregações exageradas sobre curas, soprões, marcha para Jesus, culto que mais se fala no demônio do que no Senhor da glória e etc., vamos preparando-nos para “encontrar Jesus nos ares”. Deus vai intervir. Algo está para acontecer. Os salvos bem o sabem. Há um clamor que vem das entranhas dos fiéis diante do que vem acontecendo no mundo e no meio evangélico, principalmente. É o mesmo clamor que levou João a dar o fecho do Apocalipse: “Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus.” (Ap. 22:20). E virá, para glória do Deus vivo e consolo dos que “Bem-aventurados aqueles que guardam os seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas.” (Ap. 22:14)

Quanto mais vamos aproximando-nos do arrebatamento dos salvos, mais Satanás tem seu campo de ação aumentado. Permissão divina, é claro. É necessário, por ser bíblico, um prefácio à grande tribulação. Está diante dos nossos olhos uma geração pronta a dar as boas-vindas ao “homem da iniqüidade”. Homens desafeiçoados, implacáveis, cruéis, céticos, escarnecedores, depravados e violentos, cujo objetivo, inspirado pelo inferno, é “Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.” (Rm. 1:25a).

O momento atual é “dores de parto”, gemidos que anunciam que uma “nova era” vai nascer trazendo consigo o seu “messias”.

O medo e a perplexidade que vai se alastrando no mundo incita os homens a levantarem um forte clamor pela paz. Nesse contexto de anarquia, valores invertidos, escassez de alimentos, água e emprego, somados a violência, impotência das autoridades e languidez do evangelho, é que surgirá o “cristo” da nova era “A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira,” (2 Ts. 2:9). O mundo está pronto para recebê-lo. Nosso Senhor disse: “Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis.”(Jo. 5:43).

A apostasia é um dos sinais mais evidentes de que o arrebatamento se aproxima. Nunca o evangelho de Cristo foi tão ultrajado como nos dias de hoje. E por pessoas que se dizem “evangélicas”!

Embora não sendo novidade – diante do que já foi exposto pela mídia – fiquei angustiado diante da matéria de VEJA (4/7/07) sobre a mansão do “bispo”. Doeu-me a alma vendo o que estão fazendo com o evangelho de Jesus. Leia e se segure na cadeira:

“O bispo Edir Macedo...está construindo um paraíso na terra. Trata-se de uma casa em Campos do Jordão (SP) , o refúgio de inverno dos paulistas ricos... avaliada em 6 milhões de reais. VEJA visitou os 35 cômodos do imóvel, distribuídos em quatro andares. Ao todo, são 18 suítes, todas equipadas com banheiras de hidromassagem...A casa conta, ainda, com adega,sala de cinema, quadra de squash e elevador panorâmico...Um muro de 5 metros de altura resguarda a privacidade do bispo...” (trecho da fonte citada).

É a exegese viva e a cores das palavras do Senhor: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.”(Mt 7:22,23).

Tal evangelho destituído de compromisso com Deus, deve levar os crentes sinceros a uma reflexão sobre a aproximação do “dia do Senhor”. É hora de “colocar azeite na candeia” e aguardar o “Noivo Amado” que virá em socorro da “Noiva Fiel”, a Igreja que não se contaminou com os manjares da apostasia dos últimos dias.

O impacto da pregação das boas novas está enfraquecido pelo grande número de escândalos que, de modo negativo, é claro, impactaram o mundo. É óbvio que continuaremos a pregar até o arrebatamento acontecer, mas os frutos diminuirão cada vez mais. Ninguém quer comprometimento e renúncia quando há “pregadores” anunciando um evangelho sintético...de caminho “asfaltado”.

Querido irmão do “caminho estreito”, não desanime. Persevere.Volte-se à oração. Santifique-se mais. Leia a Bíblia. Procure e achará uma Igreja que, mesmo sendo difícil o momento presente, está lutando e “batalhando pela fé que uma vez foi dada aos santos”. A.Tozer, visualizando o quadro apóstata dos “tempos difíceis”, alertou sobre a necessidade de pastores clamarem contra a apostasia e defenderem as ovelhas e a sã doutrina:

“...Quando o rebanho de Deus está em perigo, o pastor não deve contemplar as estrelas e meditar sobre temas inspirativos. Está moralmente obrigado a pegar suas armas e a correr para defendê-lo. Quando as circunstâncias exigem, o amor tem de usar a espada, embora tenha o desejo de enfaixar o coração quebrantado e cuidar do ferido. Chegou o tempo de o profeta ser ouvido novamente. Durante as últimas décadas, a timidez disfarçada em humildade tem-se mantido no seu canto, enquanto a qualidade espiritual da cristandade evangélica tem se tornado pior a cada ano que passa. Por quanto tempo ainda, Senhor? Por quanto tempo?” (autor citado).

A “fome e sede de justiça” dos fiéis levam ao desabafo “Por quanto tempo ainda, Senhor”? Bem sabemos que há, são poucos, pastores que não se dobram diante do “outro evangelho”. Assim também poucas são as igrejas semelhantes as “virgens prudentes”. Entendemos estas verdades pelas palavras de Jesus Cristo, quando disse: “Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” (Lc 18:8). Claro fica que serão poucas as que permanecerão fiéis obedecendo a ordem: “Mas o que tendes, retende-o até que eu venha.” (Ap. 2:25).

A maneira bíblica para enfrentarmos o caos da sociedade e o evangelho sem cruz é clamar por um avivamento. É difícil entender avivamento coletivo quando o “amor de quase todos esfriará”. Mas o “quase” pode clamar ao Senhor por um “mover do Espírito”. É possível por ser bíblico. Jesus disse: “E quem é santo, seja santificado ainda”(Ap. 22:11b). Precisamos, precisamos muito, levantar um clamor profundo ao trono do Altíssimo. O avivamento individual ainda é possível. E o mover do Espírito, à luz bíblica, está explicitado nas palavras do salmista: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.”(Sl 51:10).

Nós precisamos de um avivamento é o titulo de um edificante e desafiante artigo do Pb. Haroldo Reynean, publicado pela revista Proposta UPH Informativo (editorial). Tocou-me profundamente. Transcrevo para auxilio daqueles que, qual o salmista, “suspiram por Deus”:

...a necessidade da presente hora é de um avivamento! A palavra avivamento freqüentemente some do nosso meio. Isso jamais deveria acontecer; a busca deve ser constante. Precisamos de avivamento em todos os corações. Precisamos de um avivamento na freqüência à Escola Dominical, ... em nossas Sociedades Internas... na leitura da Bíblia, na honestidade moral e nas certezas espirituais. Avivamento nos padrões sociais e religiosos; avivamento de poder espiritual e consciência das coisas espirituais.Um avivamento de paixão e fervor em nossa alma.

Nós precisamos de avivamento de lágrimas e oração de intercessão.Um avivamento do interesse pelas reuniões de oração e pelos cultos semanais; avivamento de ousadia santa e pureza de coração. Necessitamos de avivamento de amor pelos perdidos e errantes.

Carecemos de avivamento nos cultos domésticos e na religião da família. Um avivamento no amor pela Igreja e por sua liderança espiritual na localidade. Um avivamento na oração individual e secreta.

Precisamos de um avivamento do temor a Deus e do pavor ao pecado. É preciso avivamento na observância do dia do Senhor e no viver cuidadoso. Um avivamento de gloriosa experiência pessoal de vitória e salvação.

Urge que tenhamos um avivamento de luta contra as influências más que estão solapando nossas igrejas, nossa vida cristã, nossa vida moral. Precisamos de um avivamento no combate ao que chamamos “pecados pequenos”.

Carecemos de um avivamento de noites inteiras de oração, um avivamento de generosa e concreta contribuição para sustento da causa, de testemunho e louvor.

Nós precisamos de um avivamento! E é a oração - oração fervorosa que nos leva à santificação completa. É essa oração que sobe até os céus pela fé e que tudo conquista. É uma profunda convicção individual de pecado que trará o avivamento de que tanto precisamos... começando dentro do seu lar, a busca desse avivamento.

“Sendo fiel ao que o constituiu, como também o foi Moisés em toda a sua casa.” (Hb. 3:2) (Autor e fonte citados).

Preciosas linhas que fortalecem o anseio de um avivamento para enfrentarmos a ira do diabo nestes dias de prefácio à tribulação. Precisamos orar e chorar mais pelos nossos pecados. Somente assim, no ocaso da graça, podemos, como Igreja, agredir o inferno arrebatando aqueles que para lá cambaleiam sem esperança. Ainda é possível enviar obreiros à seara. É possível, no meio de tanto engano e novidades do “outro evangelho”, preservar os santos valores.

“Bendito seja Deus, que não rejeitou a minha oração, nem desviou de mim a sua misericórdia.”. (Sl. 66:20).

“A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome. Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus.” (Ap. 3:12 e 22:20).


Autor: Pr José Infante Júnior 13/07/2007

Como um camaleão ou como um servo leal

Miss. Robson Abreu

Passei alguns dias em uma das tribos onde nossa Missão trabalha, lá no Amapá, com os índios WAIÃPI. Sob um sol escaldante, sempre procurava os lugares frescos para ficar. Foi em uma ocasião destas, na qual estava estudando e escrevendo um pouco, que não pude deixar de contemplar o passeio dos camaleões pelos diferentes tons de cores da tão densa vegetação.

Quando este animal passava por um local de cor cinzenta, uma mudança extraordinária acontecia em sua coloração, o cinza em seu corpo se igualava ao daquela vegetação, e quando corria para uma área predominada pela cor verde, sua pele se transfigurava tão rapidamente, que em poucos segundos ele já se confundia com o verde da floresta.

Essa capacidade de se confundir com o ambiente é uma defesa da natureza para preservar a vítima do seu predador. O MIMETISMO é uma mudança significativa de que alguns animais e plantas se utilizam para levar algum tipo de vantagem diante do seu mecanismo de subsistência.

O interessante, entretanto, é verificar o comportamento MIMÉTICO do ser humano. Como nós somos furta-cores! É muito comum mudarmos de linguagem de acordo com o ambiente : “NA CASA DO SAPO, DE CÓCORAS COM ELE”.

Existe um lado muito bom nesta questão. Devemos nos adaptar sempre que for preciso ao contexto no qual estamos inseridos. O verdadeiro cristão não precisa ser um destruidor de culturas, impondo as regras a seu modo. Se quisermos ser parte da solução dos problemas, precisamos penetrar com sabedoria no ambiente histórico e cultural em que fomos chamados a agir. Sem nos conformar com o mundo, devemos nos identificar com as pessoas de tal forma que elas possam nos entender quando estivermos falando.

Por outro lado, é importante não confundir a estratégia de relacionamento com a estúpida deformação do comportamento, apenas para não sermos perseguidos e sim aceitos.
Durante minhas viagens às aldeias não fiquei só a observar camaleões, não. Contemplei também missionários de verdade, de carne e osso. Em alguns os ossos se sobressaíam mais que em outros. Porém, estavam lá, no meio da selva demonstrando sua total LEALDADE a Deus. Estudando, pesquisando, convivendo com pessoas de culturas extremamente diferentes, com a pura e única intenção de levar-lhes o conhecimento de que Jesus Cristo é o Salvador de toda raça, tribo, língua e nação.

A lealdade das esposas que, com todos os afazeres domésticos, têm como prioridade o aprendizado da língua e cultura para receberem em suas casas os enfermos e abatidos de coração e assim transmitir as boas novas de Cristo. Foi isso o que vi.

Ter jogo de cintura e ser camaleão é fácil, porém vá viver lá! Ser luz junto a uma grande árvore iluminada pode até ser que você não ilumine o suficiente e muitos nem notarão.
Ninguém pode ser aceito por Deus por causa de uma simples maquiagem. Ninguém pode servi-Lo e servir a si mesmo. Ou somos leais ao autor e consumador de nossa fé ou seremos sempre um disfarce.

Em que tipo de terreno você está caminhando nestes dias?

“Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa”. Mateus 6:16

Dentro do Mesmo Barco

Pr. Jadir Siqueira

Quem pode entender? Quem pode dizer eu sei, sem estar lá? O que é mais importante que a experiência? Antes de passarmos pelas circunstâncias, não podemos dizer: Eu entendo.

Certa vez li que um grupo de pessoas realizava a travessia de um rio. De repente uma delas começou a fazer um furo no casco do barco. Logo, as outras disseram: “Ei! Está louco! O que você está fazendo?” E ouviram a resposta: “O que vocês têm com isso? Estou abrindo um buraco debaixo do meu assento.” E todos disseram: “Acontece que estamos dentro do mesmo barco!”

É assim mesmo. Muitas situações só podem ser compreendidas por quem está dentro do mesmo barco. Isso também se aplica à obra missionária entre os indígenas.

Um velho adágio popular já afirmava: “O que os olhos não vêem o coração não sente.” Por esta razão, reafirmo: Nada como estar DENTRO DO MESMO BARCO.

Um tempo atrás pude sentir isso na pele! Saímos de Anápolis para uma longa viagem. Silas de Lima e eu nos dirigimos ao extremo norte do Brasil, para visitar as equipes de missionários que atuam entre dois povos indígenas: Waiãpi e Galibi. Para chegar lá há muitos meios de transportes. Mas, uma vez na região, para alcançar as aldeias, só um o barco. Em muitos lugares no norte do país as estradas são os rios e os igarapés. O meio de transporte é único o barco. Quem já fez uma viagem dessa poderá visualizar o que eu narrarei a seguir.

O dia amanhecia e já estávamos completando o restante da viagem até o rio. Depois de muitas horas de ônibus, avião, trem, toyota, finalmente chegamos até o rio. Ali num barco a motor, conhecido na região por “voadeira”, subimos o riozinho até a base Remanso, nas proximidades de uma aldeia do povo Waiãpi. Estávamos nove pessoas, seis missionários, atuantes na área, um garotinho, filho de um dos casais e nós dois visitantes. Isso tudo, além das compras e bagagens. O riozinho faz justiça ao nome, especialmente na época do estio. Ele é estreito e raso. Muitas pedras surgem perigosamente e centenas de árvores tombadas no rio, tornam a viagem um tanto emocionante. Sempre há a expectativa de bater em alguma pedra, enroscar em algum tronco, ou até mesmo do barco virar.

Fizemos esta viagem durante o dia, com calma e tempo suficiente. Todavia, os missionários têm de viajar a noite, às pressas, levando algum índio grave-mente enfermo. E essa é apenas uma das muitas dificuldades do ministério.

Depois de alguns dias retornamos ao rio. Mas agora um outro rio, outro barco e mais uma longa viagem com outra equipe de missionários. Depois de 12 horas de viagem de Macapá ao Oiapoque, 600km, sendo 500 deles de estrada de terra, subimos o rio Oiapoque. Conosco estava parte da equipe de missionários que atua entre o povo indígena Galibi. O barco era maior e o desafio também! Depois de muitas horas no rio entramos no mar, no local conhecido por Ponta do Mosquito, para encontrar a foz do Rio Uaçá e subir até a Aldeia Kumarumã, do povo Galibi.

Nessa época a grande preocupação é com a maré: enchente ou vazante. O mar, a lua e as marés têm grande influência na navegação nesta região. Qualquer engano pode significar muitas horas perdidas. O barco pode encalhar ou bater em alguma pedra. Um grande susto ou um naufrágio não são descartados na viagem.

Somos gratos a Deus, pois nem um nem outro nos ocorreu. Foi muito bom chegar até a aldeia Kumuramã! Pudemos ver ali o que Deus tem feito através dos missionários. Ouvimos crianças pequenas entoando cânticos enquanto brincavam, vimos na igreja o fervor dos nossos irmãos Galibi nas orações, nos hinos e na pregação da Palavra de Deus.

Graças a Deus! Entre os Galibi há uma igreja estabelecida. O povo Waiãpi ainda não tem, mas há alguns salvos. São bênçãos recebidas e vitórias obtidas pela Graça de Deus, mas com muita luta, dificuldade e sofrimento. Ninguém pode calcular o custo, a não ser que esteja DENTRO DO MESMO BARCO. Todavia, o Senhor Jesus tudo vê, acompanha todas as situações e opera soberanamente. Porque Ele sempre está lá, junto, para sempre… DENTRO DO MES-MO BARCO. “… e eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos.” Mt 28.20b

'O indio é assim'

Josias Cambuy
Missionário entre o povo Yanomamy

Tio Cambuy, é verdade que os indígenas viviam em paz antes da chegada dos portugueses aqui no Brasil? Tio, os índios são realmente preguiçosos?

Estas e tantas outras perguntas precisei responder durante palestras realizadas nos centros educacionais que visitei nestes últimos meses.

São perguntas sinceras, feitas por mentes ainda em formação, que precisam ser bem respondidas, para que as futuras gerações, “nossos filhos”, não repitam os mesmos erros grosseiros que muitos de nós temos praticado em relação aos nossos tão queridos indígenas!!! Ou não são tão queridos assim?

Por que não são queridos os nossos irmãos? Será que reservamos em nossos corações algum espaço, por pequenino, que seja para amá-los?

Sim, caros leitores, aqui desejo lembrá-los um pouco da nossa imensa dívida com eles. Uma dívida moral, pois durante tanto tempo temos aprendido e transmitido às nossas crianças histórias totalmente distorcidas da verdade. Histórias que produzem em nós repulsa, medo, desprezo e indiferença, quando deveriam ser as de um povo lutador, sobrevivente e que sabe o que é sofrer.

Devemos a eles nomes de muitos pontos geográficos, bairros e cidades. E o que dizer da nossa zoologia, que sabiamente tomou emprestado da língua nativa nomes para muitos dos nossos animais como: peixes, aves, insetos, répteis, etc. Estes nomes cheios de significados estão incrustados no nosso idioma e os usamos no nosso dia-a-dia. Isto deve nos levar a pensar como são bem estruturadas a língua e a cultura dos indígenas brasileiros!

O índio é assim: traiçoeiro, preguiçoso, pronto a matar, promíscuo, sem sabedoria, etc,etc.
Alto lá com estes adjetivos! Estes são conhecimentos bem distorcidos a respeito da nossa gente! Um passo atrás, por favor!

Acompanhe-me apenas nesta reflexão a respeito do mito: O ÍNDIO É PREGUIÇOSO. Primeiro minhas sinceras desculpas a todos quantos não pensam desta forma (vocês não precisariam ouvir minhas explicações) e principalmente aos nossos leitores indígenas que por vezes têm que ouvir tais impropérios citados acima.

Vejam só isto: o indígena precisa sair todos os dias para buscar seu próprio alimento, pois ele não tem como estocá-lo. Por vezes sai às quatro horas da manhã, ou mesmo passa a noite toda pescando. Lá ele passa muito frio, é acometido por toda sorte de insetos, ou passa por perigos sem fim. Às vezes sofrem acidentes com animais selvagens ou machucam seus pés em troncos e pedras. Tudo isto, no entanto, se passa muito longe dos nossos olhos! Cedo, de manhã, muito quieto e cansado retorna à sua casa com o alimento para seus filhos.

Mais tarde nós chegamos (de alguma forma entramos na sua história), já alimentados, com uma noite bem dormida, bem vestidos, normalmente passeando e prontos para ver o índio, se possível como a televisão nos apresenta, é claro! Aí vem a primeira decepção e as conclusões distorcidas: “o índio é preguiçoso, só vive na rede”. Primeiro: está na rede porque ali é o seu sofá, sua cama, sua cadeira, sua mesa e muitas vezes sua área de serviço. Segundo: esta é a sua hora de descanso, bem diferente da nossa, mas apenas diferente! Porém, não estamos prontos para ver o índio como ele realmente é! O índio não é assim! Ele é como a sua própria cultura o ensinou a ser. Cada etnia, cada grupo tem seus próprios costumes e sua cultura característica. Porém, nem um grupo étnico que eu conheça tem a cultura da preguiça, do ser traiçoeiro ou qualquer outro adjetivo que o desmereça.

O índio é assim, humano como nós, apenas diferente culturalmente!

Texto Extraido da Revista Confins da Terra (MNTB)

Viagem rumo à uma aldeia Kuripako

Miss. Marcelo Pedro

“Ó Senhor, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o Teu nome! Pois expuseste nos céus a Tua glória” Salmo 8:1

Continuamos servindo ao Senhor e completamente envolvidos na tarefa de alcançar as tribos do alto rio Içana com a mensagem do Evangelho. Neste momento estou a bordo de uma tosca embarcação de madeira. Estamos no segundo dia de uma viagem de 1.300 km rumo à “Cabeça do Cachorro”, no extremo norte da região Amazônica, confins do Brasil.

Ciente dos vários dias que serão consumidos nesta jornada, recosto-me à rede e atiro-me à tarefa de rabiscar esta. Toda a expectativa de comunicar-lhes nossas notícias só é superada pela enorme gratidão que transborda em meu coração por suas vidas e pelo apoio e carinho demonstrados para conosco.

Logo que principiei a descrever os acontecimentos do nosso ministério, em meio ao belo panorama da paisagem banhada pelas águas de reluzentes reflexos, algo no horizonte distante capturou a minha atenção! Observei o sol descendo do céu semelhante a um disco incandescente, enovelado entre flocos de nuvens alvíssimas! Auréolas de púrpura luminosas adornavam as camadas de nuvens que se aglomeraram lentamente, como que dando formas variadas a um panorama de maravilhosa beleza. Extasiado, observei o céu inundar-se de múltiplas cores sobre a linha opulenta do horizonte! Minha súbita impressão foi que a natureza, em resposta a uma Poderosa Presença invisível, se descortinou diante dos meus olhos num solene e glorioso cortejo, orquestrado por uma sinfonia de coloridos indescritíveis!

Que visão! Que cenário! Por alguns instantes quedei-me atônito! Meus pensamentos cessaram! Não pude mais me conter! Minhas pupilas se dilataram, como que almejando fixar para sempre nas retinas o esplendor daquele ocaso. Meu coração incandescido de paixão pelo Autor da obra parecia saltar em exultação dentro do peito! Todo o meu íntimo se derramou em adoração, fazendo fluir nos lábios alegres expressões de louvor. E orando baixinho, exclamei: “Oh, Deus! Graças Te dou por ter sido tomado do horror da minha miséria, para conhecer a beleza da Tua Majestade! Muito obrigado pelo privilégio de ter sido escolhido para servir como missionário! Que bendita graça! Como é bom estar em Tuas mãos e ser conduzido através deste exuberante caudal sinuoso, para falar do Teu poder e da Tua grandeza àqueles que não Te conhecem! Como gostaria que tantos que amam a Tua obra pudessem também penetrar nos densos recessos da floresta amazônica, para contemplarem no resplendor dos seus aspectos, esta visão deslumbrante dos céus proclamando a Tua glória e o firmamento anunciando a obra das Tuas mãos!

Como gostaria que outros tantos desconhecidos, que residem isolados na selva ameaçante, reconhecesse a Tua majestade e quedassem diante do Teu poder imutável, crendo na autenticidade dos Teus atributos e do Teu maravilhoso amor”.

Momentos inesquecíveis que ficarão gravados indelevelmente na memória do viajante boquiaberto! O calejado missionário ainda encontra momentos para ficar embevecido, porque seus olhos se quedam ante a visão assombrosa daquele cenário de imponência, força e beleza! E em meio a uma suave brisa que sopra continuamente sobre seu rosto, levanta os olhos ao céu e, com o coração transbordando de gratidão, suspira comovido: “Querido Deus! Como Tu és maravilhoso! Como me sinto tão feliz no deleite da Tua presença! Eu não trocaria por nada esta oportunidade de estar neste lugar, desfrutando de tão doce comunhão! Jamais gastaria a minha vida de outra forma, nem por tudo que há no mundo!” Neste ponto, a afirmação bíblica comprovou-se fiel e verdadeira: “…na Tua presença há plenitude de alegria, e em Tua destra delícias perpetuamente.”

Lentamente, o sol começa a morrer. Todo o ocidente arde em cores reluzentes, de riquezas faiscantes! Ao longe, o verde escuro das árvores vai se diluindo, parecendo que as copas das árvores, quais silhuetas esfumaçadas, vagarosamente são encobertas por um imenso lençol luminoso. Continua o sol declinando… Eis que me surpreende, no firmamento acinzentado, a enorme revoada de garças sob a imensa abóbada rosada. Agrupadas em vários bandos, elas adejam pelo céu numa notável sincronia de movimentos e suntuosidade. Orientadas por seu líder, voam rumo às copas das árvores, cujos galhos elevados garantem às frágeis avezinhas sítios invioláveis nos quais repousam e constroem seus ninhos. Lembrei-me das palavras cheias de doçura e amor, pronunciadas pelo querido Salvador: “Observai as aves do céu… vosso Pai celeste as sustenta. Porventura não valeis vós muito mais do que as aves?” Mt 6:26

Ainda é possível ver ao longe, nas altas ribanceiras, a espiral fumarenta que sai de uma palhoça isolada. Possivelmente, os moradores dessas terras distantes de tudo e de todos são caboclos ribeirinhos. Gente que está arraigada a um modo primitivo de viver, onde o sentido da vida se perde em si mesmo. Sem acesso a escolas, desprovidos de qualquer espécie de assistência médica ou bem estar material, esbarram a todo instante com a morte, como quem tropeça num torrão da própria sepultura. Gente desolada, que desconhece por completo a vida abundante que há em Cristo Jesus. Quem não se comove com este quadro? Quem se dispõe a contar-lhes a linda história da Redenção em Cristo Jesus? Meu brado ecoa no silêncio, enquanto minha alma é arrebatada pelo mesmo sentimento que encheu o coração de Hudson Taylor: “Oh! Se eu tivesse cem vidas a dar ou gastar, para que todos eles conhecessem a maravilhosa graça de Deus!”

O sol finalmente desaparece. Imediatamente, a noite estende o crepe gelado e negro do seu véu sobre toda a “Cabeça do Cachorro”, encobrindo o verde da paisagem e fazendo pairar sobre nós uma tênue sensação de medo e opressão. À medida que avançávamos noite adentro, fui compreendendo a razão de tais sentimentos. Não é de supor que inimigos invisíveis deixassem invadir seu território, sem incitar algum tipo de resistência. Seres sinistros que habitam estas paragens, e que batalham de todas as formas para impedirem que a Palavra da Verdade alcance os recônditos dos corações desesperançados dos que vivem neste imenso “inferno verde”. Nisto me veio à mente a bendita promessa do Senhor Jesus: “…e eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”. Impulsionado e fortalecido por esta poderosa palavra, acomodei-me relaxadamente à minha rede, e esboçando um pequeno sorriso nos lábios, arrematei: “Querido Jesus, obrigado por Tua constante presença ao meu lado! Não importa aonde vá, ou o que me aconteça, Tu sempre estarás comigo! Sinto-me seguro e confiante sob as Tuas vistas, caminhando na fidelidade das Tuas promessas!”

Queridos irmãos, a obra missionária é constituída de momentos como estes! Inicialmente me propus a relatar sobre a nossa caminhada missionária, mas fiquei absorvido pela luz deslumbrante do sol poente sobre as imponderáveis águas do rio Negro. Esforcei-me na descrição, não para impressionar, mas porque acredito que o Autor divino tem prazer em contemplar a Sua glória refletida em Suas obras. E o meu desejo foi dar-lhes, de relance, um pequeno retrato dessa glória manifestada sobre o verde escuro da selva. Na realidade, o grande anseio do meu coração é que esta mesma glória também seja refletida em toda a sua beleza e majestade na vida de cada índio Kuripako do alto rio Içana. Este é o verdadeiro motivo que me impulsiona rio acima.

A Deus toda a glória!

Extraído da Revista Confins da Terra, Edição 123, p. 10 e 11.

MISSÕES: Por que uma tarefa inacabada?

Zenilson A. Bezerra
Missinário junto a Tribo Kuripaco - AM
“Mas, para mim, bom é aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no SENHOR Deus, para anunciar todas as suas obras”. Sl 73:28 (RC)

Sabemos que o desejo de Deus é que o Evangelho seja transmitido a todos os povos. Por que, então, tantos séculos já se passaram desde a ordem que o Senhor nos deu de irmos pregar a todas as nações, e ainda temos missões como uma obra inacabada?



No Salmo 73:28 vemos algumas razões de termos missões como uma obra inacabada:
Falta-nos intimidade com Deus (vs. 28a) - o salmista estava olhando para a prosperidade dos ímpios e por um tempo parou de olhar para o Senhor; parou de caminhar com Ele (versos 2 e 3). Depois cai em si e diz: “bom é aproximar-me de Deus”. E nós, como estamos em relação à intimidade com Deus? Nas igrejas vemos um ativismo tremendo, e o ‘viver em intimidade com Deus’ tem sido deixado de lado. Pois há um envolvimento demasiado com a aparente obra de Deus, esquecendo-se do Deus da obra.


Vemos em Atos dos Apóstolos a fabulosa expansão do Evangelho, ocorrida em tão pouco tempo e com os recursos bem limitados. Ao compararmos com os nossos dias, a pergunta é: por que temos feito tão pouco, diante de todos os meios de transporte e de comunicação de que dispomos? O lema deles era: Conhecer a Deus e fazê-lo conhecido, pois o alvo maior era viverem em íntima comunhão com Deus; do contrário, não teriam nada para oferecer ao mundo (Atos 3:6).

Precisamos entender que necessitamos desta íntima comunhão com o Senhor para termos algo substancial a oferecer ao mundo que clama. Pois embora tenhamos igrejas em praticamente cada esquina, para todo tipo de gosto e preferência, as pessoas precisam de Deus, como aquele mendigo e paralítico na porta do templo, em Jerusalém, que segundo o texto em Atos 3:5 “olhava atentamente [para Pedro e João] esperando receber alguma coisa”. A carência maior da humanidade é de Deus e da salvação. Assim, sem usufruir a intimidade com Deus por meio da Sua Palavra e oração, a igreja pode vir a tornar-se nada mais do que uma das muitas ONGs (Organizações Não Governamentais) que tentam solucionar a superfície, a ‘casca’ das mazelas humanas, sem tratar aquilo que destrói o homem por dentro, o pecado, fonte do caos no mundo.

Quem não ouviu falar do destacado missionário Hudson Taylor? Em sua biografia consta que “o sol da China nunca se levantou sem ver Hudson ajoelhado, orando ao Senhor”. Ele foi um homem que entendeu que a intimidade com Deus era algo fundamental para sua vida e ministério. Se perdermos Deus de vista, conseqüentemente perderemos também de vista a Sua obra.

Com Asafe aprendemos também que falta-nos confiança em Deus, vs. 28b. O salmista depois que volta o seu olhar para o Senhor, vê o Senhor como o seu refúgio. No mundo pós-moderno, onde predomina o relativismo e onde é ensinado que não existe uma verdade absoluta, somos desafiados a continuar confiando no Senhor por intermédio da sua inerrante e infalível Palavra que temos em mãos as sagradas Escrituras. E aqui a frase ‘pus a minha confiança no Senhor’ trás a idéia de Deus como Aquele que nos faz descansar, pois nEle as inquietudes da vida se desvanecem.. Asafe conclui dizendo: ‘…para anunciar todas as tuas obras.’ E com isso percebemos que uma outra razão de termos missões ainda como uma obra inacabada é que falta-nos compromisso com a proclamação das obras de Deus, vs. 28c. Ele nos ensina que a intimidade com Deus e a confiança nEle têm um propósito: “…para anunciar todas as tuas obras”. Se provei da graça e do perdão de Deus, não posso me calar. Tenho que proclamar aquilo que Ele fez, tem feito e está fazendo.

O Senhor disse que receberíamos poder PARA TESTEMUNHAR!! Mas vemos hoje um poder que não transforma, que não leva o indivíduo a testemunhar de Cristo, pelo contrário, o detém em quatro paredes.Temos a ordem de Deus de proclamarmos ‘as virtudes do nosso Senhor’ que nos tirou das trevas para sua maravilhosa luz, como diz I Pedro 2:9. Jesus é muito específico. Ele não queria que tivéssemos qualquer dúvida quando disse: “Ide por tudo mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc. 16:15). Ele está nos ensinando que o Evangelho não é privilégio de alguns. É para os índios, para o pessoal da cidade, do interior; é para o africano, asiático, americano, latino; é para toda criatura humana.

Cabe a nós uma coisa: proclamar o Evangelho hoje, amanhã e sempre! Indo, orando e contribuindo! Mas nunca sem fazer alguma coisa!

Extraído da Revista Confins da Terra, Edição 126

Ele Foi Onde Ninguém queria ir

Adilton Campos
Missionário entre povo Gavião-RO

“E era-lhe necessário atravessar a província de Samaria. Chegou, pois, a uma cidade samaritana…” João 4:4,5b
O povo samaritano era desprezado por aqueles que viviam à sua volta, os judeus, que os odiavam e os desprezavam. Muitas vezes quando os judeus precisavam viajar até a província da Galiléia, davam uma volta passando pelas margens do rio Jordão, para não passarem por Samaria.

Mas um dia Jesus, que era judeu, rompe a barreira da separação e da discriminação e vai até Samaria. Ele foi até aquele povo que outrora era desprezado e esquecido. Movido pelo amor às almas perdidas e também pelo fato de que Ele; “veio para o que era seu, e os seus não o receberam” João 1:11.

Lá Jesus encontra a mulher samaritana e se revela a ela como o Messias e Salvador do mundo. Ela e muitos outros crêem nele. Ele foi aceito pelos samaritanos que creram Nele, por quê? Porque ele resolveu ir ao seu encontro, e porque decidiu romper aquelas barreiras que os separavam.

Amados irmãos, nós também vivemos rodeados por um povo que, muitas vezes, é discriminado, desprezado e odiado; é o povo Indígena. Assim, como Jesus fez, precisamos romper toda e qualquer barreira que nos separam, motivados pelo amor e o desejo de levar o conhecimento do Filho de Deus, Jesus Cristo, a todos aqueles que ainda não o conhecem.

É triste saber que 103 tribos indígenas vivem sem presença missionária. Como podemos dizer que o Brasil é uma nação evangelizada, se há tantos aqui ainda não alcançados? Não é justo que muitos ouçam de Cristo muitas vezes, enquanto outros nada sabem dEle. Será que isso não incomoda seu coração? Até quando eles vão esperar? Por isso Jesus falou: “Erguei os vossos olhos e vedes os campos, pois já branquejam para a ceifa” (João 4:35).

Recentemente ouvi de um cacique de uma tribo de Rondônia que estava clamando por missionários para irem falar de Cristo para o seu povo, e a realidade é que não há obreiros para atender esse clamor. Queridos, vamos nos despertar e realizar a obra para a qual Ele nos chamou! Vamos levar as Boas Novas de Salvação!


Extraído da Revista Confins da Terra, edição 121 p. 6

Nos Braços do PAI

Marcelo Pedro
Missionário da Missão Novas Tribos do Brasil

“O que a mim me concerne o Senhor levará a bom termo; a Tua misericórdia, ó Senhor,
dura para sempre; não desampares as obras das Tuas mãos” - Salmo 138:8

Aquela foi mais outra longa e cansativa viagem subindo o rio Içana em direção ao nosso lar, entre o povo Kuripako.

Por quase duas semanas a pesada canoa feita de tronco de árvore, também denominada de “bongo”, deslizara suavemente sobre as águas, levando, quase no limite da sua capacidade, suprimentos para vários meses.

Aquela jornada marcaria o meu retorno ao trabalho missionário, após um período de ausência. A minha querida esposa não pôde me acompanhar desta vez. Por motivo de saúde ela ficara, juntamente com os nossos três filhos, em Manaus para submeter-se a um longo tratamento.

Sentado quieto na canoa, enquanto observava um grupo de índios que viajava comigo, alternando-se em narrativas de proezas das suas caçadas, todas pontilhadas de alegres gargalhadas, vinha-me à mente a recordação das lágrimas da minha Rute naquela difícil despedida no porto em Manaus: “Querido…”, sussurrara ela entre soluços, “…sei que sozinha e ainda me convalescendo, será um pouco difícil nestes dias, mas sei também que a graça de Deus me fortalecerá! Nós ficaremos bem! Cuide-se bem e vá!” A expectativa dos meses de separação já produzia um indescritível sentimento de saudades, que só era amenizado por duas certezas: (1) estamos no centro da vontade de Deus, portanto Ele cuidará de nós e nos conduzirá em triunfo, (2) nos encontraremos no meio do ano, tendo os corações mutuamente fortalecidos em amor. Repentinamente, senti o soprar de uma suave brisa de alegria invadindo o meu coração, enquanto ecoava na minha mente as sábias palavras de um missionário de cabelos brancos: “Marcelo, há um lema que rege a obra de Deus: Sem grandes sacrifícios não há grandes vitórias!”

À medida que penetrávamos no sombreado curso do rio Içana, com a selva se adensando cada vez mais ao nosso redor, crescia também no meu coração este espírito de entusiasmo e confiança em Deus pelo privilégio de servi-Lo com toda a minha vida. Confesso que não foi difícil descobrir que o ânimo que me impulsionava rio acima não tinha origem em mim mesmo, mas me era comunicado ao coração pela inconfundível e doce presença do Senhor bem ali ao meu lado. Uma presença sensível, diante da qual fugira todas os medos, pensamentos superficiais e inquietações. Então compreendi claramente o significado desta promessa: “A paz de Deus que excede todo entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus” (Fil. 4:7).

Prosseguimos intrepidamente. Após passarmos uma curva do rio, avistamos uma área repleta de enormes rochas pontiagudas recortadas pelas águas escuras do Içana. Estávamos nos aproximando da “Tsepã-hiipa-lico”, uma das perigosas cachoeiras que marca fronteira entre os territórios Baniwa e Kuripako. Ao tentarmos transpor dificultosamente aquela cachoeira, tivemos um instante de horror quando fomos quase tragados pela fúria das águas que arremessavam violentamente nossa canoa sobre as pedras. “Oh Deus! Ajude-nos, Senhor!” Bradei em profunda aflição, agarrando-me nervosamente às bordas da canoa! Neste instante divisei os índios acenando freneticamente as mãos e gritando desesperadamente uns para os outros. À proporção que a água invadia a canoa, um terrível pensamento assaltava a minha mente: “Estamos em grande perigo e vamos alagar na boca desta terrível cachoeira!” Repentinamente, me veio também uma estranha sensação de resistência demoníaca, salpicando a atmosfera do lugar e intensificando nossa angústia. Mas, naquela mesma hora, a Bendita Presença que nos levara triunfantemente até ali, nos socorreu e nos livrou do perigo. Com o coração batendo aceleradamente, lembrei-me do exército de servos de Deus que estavam intercedendo por mim naquela hora. “Querido Senhor, muito obrigado pela Tua misericordiosa proteção!” E com os olhos marejados pela comoção, arrematei: “Eu creio que Tu levarás a bom termo o teu plano maravilhoso para as tribos da ‘Cabeça do Cachorro’. Muito obrigado por fazer parte deste Teu plano!”

Por quanto tempo ainda as dificuldades deste mundo impedirão que muitas tribos perdidas ouçam da inefável graça de Deus? Por quanto tempo ainda nos intimidaremos ante as regiões sombrias onde impera total ignorância do Senhor Jesus Cristo? Será que nunca nos ocorreu que o Deus Todo-Poderoso vibra de entusiasmo ao ver a Sua Palavra alcançando os confins deste mundo? Será que nunca nos ocorreu que a nossa vida só tem sentido, quando se torna uma resposta aos grandes desafios missionários do coração de Deus? Estes pensamentos me abalaram e me fizeram perceber a insignificância da minha vida em face da grandiosidade da obra de Deus. E, orando baixinho disse: “Usa-me, Senhor, para produzir a Tua glória neste lugar, e para estabelecer o Teu reino nas tribos do vale do Içana!” Senti uma renovada vitalidade brotando dentro de mim e coroando minhas feições de alegria uma alegria que não era apenas minha!
Passado o clímax da emoção, um índio me informou que parte da nossa preciosa gasolina tinha sido tragada pelas profundezas do “Jurupari” (cachoeira do diabo na língua nativa), porém o restante da bagagem, embora molhado, estava intacto. Também ninguém se machucara no incidente, exceto um índio que caiu sobre as rochas, porém nada grave. Isto era um milagre! Exultei de alegria e de gratidão ao Senhor! Sob os olhares atentos dos meus “marinheiros” louvei ao meu Senhor com um hino na língua indígena, enquanto prosseguíamos.
Ao nos aproximarmos das aldeias Kuripako exauriu-se todo o nosso estoque de gasolina e ficamos à deriva. Como estávamos numa grande e pesada canoa, prosseguimos com dificuldade num penoso processo de remar lentamente, contornando as inúmeras curvas do rio. Nisto o tempo tornou-se inclemente! O sol retirara a sua luz desaparecendo sob escuras nuvens! E, em questão de instantes, uma pesada chuva se abateu sobre nós. Afundamos vigorosamente os remos na água e resolutos avançamos contra o temporal, até finalmente atracarmos no porto de São Joaquim, nosso destino final.

A notícia da minha chegada rapidamente se espalhara por toda aquela região. Ao me aproximar da aldeia, todos os índios correram em minha direção para me saudarem com um firme aperto de mão. Em seguida, um alegre e barulhento cortejo conduziu-me até a minha casa, localizada na parte mais baixa da aldeia Keradaro.
Aquela tarde fria alimentava ainda mais a saudade da minha querida esposa, enquanto o enorme desejo de chegar em casa fazia desvanecer o cansaço daquela longa jornada. Mesmo sabendo que a minha família ficara para trás, assediava o meu coração a viva lembrança da minha querida aguardando ansiosamente a minha chegada, e nossas três crianças correndo a me abraçar! Porém, ao entrar, a cabana estava silenciosa e vazia! O nosso fogão a lenha, exalando aquele saboroso cheiro das sopinhas quentes da Rute, agora estava coberto de pó e sujeira de morcegos. A cobertura de palha da casa, apodrecida, permitiu que a chuva, insetos voadores e hordas de morcegos entrassem produzindo enormes estragos. Subitamente, percebi o que significava estar tão longe da família. Seguido pela comitiva que me recepcionara, afastei-me da casa por um instante e num gesto quase imperceptível suspirei comovido: “Oh, querida Rute, como eu gostaria que você estivesse aqui comigo!” Lágrimas quentes começaram a rolar na minha face, confundindo-se com a fria garoa que ainda caía sobre nós. Nisto acudiu-me um quadro de imensa ternura: Alexandre, um dos anciãos da aldeia acercou-se de mim, colocou sua mão sobre meu ombro e começou a orar com voz embargada: “Você, meu Senhor, Você, meu Deus santo, agradeço por trazer o nosso pai novamente para nós. Agora o meu coração está alegre porque posso ouvir a Sua Palavra da boca deste nosso pai…”. Foi a primeira vez que ouvi na língua nativa esta expressão carinhosa de tratamento para comigo. Com o coração abrasado e incandescido pela emoção, segurei-o pelo pescoço, puxei-o para junto de mim e choramos convulsivamente num misto de alegria, tristeza e saudades.

Assim é a obra missionária! Sozinho aqui no mato tenho aprendido grandes lições de dependência de Deus. Tenho aprendido que uma vida fácil que a si mesmo não se negue, nunca será uma vida de excelência nas mãos de Deus. O meu grande ânimo é saber que foi Ele quem me colocou onde estou e como estou. Jamais procurei este lugar e posição para mim mesmo, todavia não tenho coragem de abandoná-la. Do âmago da minha alma eu me deleito no fato de saber que o Senhor fará a Sua grande obra na vida daqueles que habitam na “Cabeça do Cachorro”, alto rio Içana, confins do Brasil.

A Realidade Missionária Indígena

Introdução
1. O apóstolo Paulo era de Tarso, uma cidade universitária da época. O convívio dele flutuava entre duas culturas: a judaica e a gentílica grego-romana. Ele não apenas conhecia bem as duas culturas, como fazia parte delas.

2. Embora Paulo seja um padrão para o trabalho transcultural, só houve dois lugares visitados por ele que eram considerados primitivos.

3. Um desses lugares foi a ilha de Creta. Ele mesmo não começou aquele trabalho. Provavelmente, foram João Marcos e Barnabé na famosa separação das equipes missionárias. Paulo nem mesmo trabalhou em Creta, mas enviou Tito. E teve uma passagem muito rápida por ali. Até que ele quis ficar uns 4 meses, mas a tripulação do navio que ia para Roma não quis e quase naufragaram (At 27.7-23). Mesmo assim, os cretenses tinham costumes de piratas, mas foram colonizados pelos gregos há 1500 anos antes de Cristo.

4. Outro campo missionário transcultural para Paulo foi a ilha de Malta. De fato, este foi o único lugar que Paulo visitou que podemos afirmar que se tratava de cultura diferente da cultura judaico-grego-romana que Paulo tão bem conhecia.

5. Não foi uma visita programada, nem uma viagem missionária. Mas foi o resultado do naufrágio daquele navio cheio de prisioneiros.

6. Por um lado podemos dizer que Paulo chegou acidentalmente (naufrágio), mas por outro lado devemos crer que foi a providência divina que o lançou ali.

7. A chegada de Paulo na ilha de Malta serve de inspiração e modelo para o trabalho missionário indígena.

8. A começar pelo acesso, chegar até à ilha de Malta era um desastre (At 27.41-28.1). Os trajetos para alguns trabalhos missionários indígenas são sofríveis (Exemplo: Foz do Içana).

9. O trabalho transcultural antes de tudo é um contato com uma outra realidade. Para o missionário recém-chegado pode não parecer real, mas é que a realidade é um tanto diferente da realidade que ele está acostumado.

Proposição: O candidato ao trabalho missionário deve se preparar para o contato com outra cultura. A estadia de Paulo na ilha de Malta dá um vislumbre do contato do missionário com o campo de trabalho futuro.

I. O contato com bárbaros - v.2
1. Há uma forte campanha para evitar termos como estes, mas sempre existiram culturas de costumes primitivos, menos desenvolvidas em relação ao desenvolvimento normal do mundo. São os chamados “povos isolados”.

2. Os gregos apelidaram esses grupos de bárbaros, pois como não falavam grego, a língua oficial, tudo o que falavam aos ouvidos dos gregos soava como “bar bar”, como uma criança articulando as primeiras sílabas.

3. O termo se generalizou até chegar aos nossos tempos. A discriminação não está propriamente no termo, mas em considerar-se mais humano do que esses povos.

4. Alguns povos isoladas são bravos. O saudoso missionário Abraão Koop, da Missão Novas Tribos dizia que os Paacas Novos receberam os primeiros missionários com flechas. Assim foi com a tribo Sawi na Papua Nova Guiné, cuja história é relatada no livro “Senhores da Terra”.

5. Os primeiros missionários da New Tribes Missions foram mortos pelos índios Ayoré da Bolívia. As cinco viúvas continuaram o trabalho e viram os assassinos de seus maridos se converterem.

6. Antes da Missão Novas Tribos, três ingleses vieram para o Pará fazer contato com os Kaiopó. Os três foram mortos. Foi escrita a história, não traduzida para o português, desses três jovens. O livro se chama “Os três Freddys”, pois tinham o mesmo nome e a mesma convicção. Isto foi em 1927.

7. Nem todos os bárbaros, ou povos isolados, são hostis. Os missionários das Novas Tribos se preparam para um contato difícil com os Zo’é (na época os Poturu). Para a surpresa de todos o contato foi pacífico. Mais hostis foram os antropólogos que expulsaram os missionários da tribo.

8. O contato com os bárbaros da ilha de Malta foi tão pacífico que eles nem queriam os pertences das pessoas, mas pelo contrário, cuidaram deles e de suas necessidades físicas (v.2).

9. O missionário terá, portanto, contato com pessoas de verdade, amigos de verdade, mas de costumes e maneiras de civilização, às vezes, totalmente diferentes para ele.

II. O contato com animais peçonhentos – v.3
1. É impossível negar a realidade de que o missionário encontrará cobras no campo. O Brasil é um país tropical e tem as mais belas e perigosas variedades de cobras. Em Minas Gerais ver cobras é comum; em Mato Grosso matar cobras é comum; no Amazonas ver e matar cobras é inevitável.

2. Daniel Royer, professor no Instituto Missionário Shekinah, em 1988: “Se o medo dominar a pessoa, ele deixará de comer milho por medo de cobras”.

3. Todos os missionários já foram protegidos de picadas de cobra sem mesmo o saberem. Não existem só as cobras que vemos; aquelas que passam antes de nós ou aquelas que chegam depois de nós, também são reais. Os anjos protegem os missionários, também, das cobras. Criancinhas são protegidas por eles muitas vezes. Se algum missionário ou filho for picado não significa que os anjos dormiram, mas que Deus por alguma razão quis que aquilo acontecesse.

4. Índios são picados por cobras. Os missionários já foram picados por cobras. Ambos são humanos e as cobras não fazem distinção.

5. O missionário Bill Moore entregou ao Senhor sua filhinha de cinco anos. Uma surucucu foi o instrumento de Deus para levar a criança. Élden, filho do missionário Coy, foi picado por cobra.

6. Os animais peçonhentos, insetos perigosos e outros animais são uma realidade do trabalho missionário. O missionário terá contato com esses bichos.

III. O contato com as crendices do povo – v.4-6
1.O missionário poderá ser visto, às vezes, como um intruso e coisas erradas que, porventura, acontecerem na tribo podem ser atribuídas à ira dos espíritos sobre o povo por causa do missionário (v.4).

2.A tribo Maku guarda o costume milenar de proibir que mulheres vejam o rosto do homem que usa máscara em uma de suas festividades. A penalidade para tal ato é abrir uma grande cova, entrar toda a aldeia dentro e colocar fogo para que todos morram. Os missionários não estão isentos de serem a “maldição” e tampouco estariam livres da penalidade.

3. Outros exemplos — Índios que se abaixam na canoa ao chegar perto de uma montanha com um filete de água. Explicação: É a urina de um demônio que escorre pela montanha.

Índios que saem para o meio da selva uma vez por ano e depositam alimento em cima de uma pedra. Explicação: Alimentando os espíritos que poderiam fazer mal à aldeia.

Na China os velhos são venerados e depois de mortos adorados e invocados {ver NIDA, pg.41}

Já os esquimós exterminam os velhos, colocando-os numa jangada e mandando para as águas gélidas para morrerem {ver NIDA, pg.41}

Muitas culturas não toleram o segundo gêmeo e matam apaziguando os maus espíritos.

4. Os povos estão cheios de crendices. Os nativos da ilha de Malta receberam bem Paulo, mas ao ser picado pela cobra viram-no como um assassino sendo perseguido por forças sobrenaturais.

5. Todo missionário aprende a desenvolver um estudo de cultura chamado “Os Universais”. Cada aspecto da cultura deve ser observado e anotado pelo missionário. Mas ao começar a anotar as crendices o missionário logo vê que a tarefa é imensa. As crendices deles vão de um extremo para o outro. No caso dos maltenses Paulo ou era um homicida ou um deus (v.5-6).

6. O missionário deve ficar atento, pois este é o contato mais sério e difícil dos povos explicarem. É o contato com suas crendices.

IV. O contato com chefes de aldeia – v.7
1. O missionário deve se apressar em fazer um bom contato com chefe da aldeia. Isto não significa que será o líder da igreja, mas para ter liberdade de trabalho o missionário precisa ter a aprovação do chefe.

2. Paulo foi bem recebido e ganhou três dias de hospedagem com o chefe da aldeia (v.7).

3. O candidato à obra missionário precisa aprender a respeitar as autoridades desde já, pois seria o fim de seu ministério se não aceitasse a autoridade de um chefe de aldeia e ultrapassasse as suas instruções. É um contato que precisa de treinado desde já. Aprender a obedecer sem questionar.

V. O contato com doentes – v.8-9
1. O candidato ao trabalho missionário indígena faz coisas que dificilmente faria em nossa sociedade. Nem mesmo seria prudente e legal, ou seja, tratar dos doentes.

2. O curso de enfermagem será muito útil, mas nem todos podem ser enfermeiros. A equipe ideal é aquela que tem pessoas com várias habilidades.

3. Mas de qualquer forma, os doentes são uma realidade para o missionário. O amor pelos perdidos deve se estender para o cuidado com a sua saúde. As coisas mais básicas para nós são incomuns para muitos índios. Por exemplo: fazer um índio tomar comprimidos por 15 dias. Ou o missionário aplica injeções ou cuida do índio como cuidaria de um filho: acorda para dar remédio e faz uma escala para levar o tratamento até o final.

4. Agora multiplique isto por 100, 150, 200 ou mais pessoas. E quando a aldeia é acometida por uma epidemia? E quando há casos em que é necessário pagar um vôo de emergência? Lembre-se que a Missão não custeia remédios e nem viagens. E não poucas vezes o missionário presenciará a morte de crianças e adultos. Outras vezes será acusado pela morte deles por tirar do curandeiro para tratar com remédios.

5. O candidato deve desenvolver a prática da oração pelos enfermos e deixar de pensar só em si. Paulo teve contato com um doente na ilha de Malta (v.8-9). Lembre-se que Paulo era doente e estava indo para a prisão e saído de um naufrágio, mas no momento não estava se lamentando, porém, pensando nos outros.

6. Um contato certo que o missionário terá de enfrentar, é o contato com doentes e alguns deles com doenças contagiosas.

VI. O contato com a honra – v.10
1. Talvez o contato mais perigoso que o missionário terá de enfrentar não é com índios bravos, com cobras, com as crendices, com o chefe ou com doenças contagiosas, mas o contato com a honra.

2. A humildade precede a honra, mas é possível uma outra ordem. Quando missionários não são humildes o suficiente para receber honras, pode ser a ruína deles.

3. Achar que pessoas não viveriam sem o nosso trabalho é a pior arrogância do missionário, pois com tal atitude ele está menosprezando os seus companheiros de ministério e a Deus que Lhe dá capacidade para trabalhar.

4. Paulo foi honrado pelos maltenses e até recebeu oferta deles. Mas Paulo chegou naquela ilha por causa de um naufrágio, foi usado por causa da misericórdia de Deus e saiu dali com as honras que deveriam ser devolvidas a Deus assim que entrasse de volta para a embarcação.

5. Cuidado com o contato com a honra. Quando o missionário fica mais conhecido, ele deve manter a mesma atitude humildade daquela com a qual começou a sua carreira.

Conclusão:
1. A vida do missionário é uma vida de contato. Os contatos são reais, porém, uma realidade diferente da sua própria.

2. O contato com povos primitivos (bárbaros). O contato com animais perigosos (cobras). O contato com as crendices do povo. O contato com chefes de aldeia. O contato com doentes (e doenças contagiosas). O contato com a honra.

3. O preparo missionário ajudará a amenizar o choque desses contatos e a dependência de Deus fará possível esses contatos.