sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Dentro do Mesmo Barco

Pr. Jadir Siqueira

Quem pode entender? Quem pode dizer eu sei, sem estar lá? O que é mais importante que a experiência? Antes de passarmos pelas circunstâncias, não podemos dizer: Eu entendo.

Certa vez li que um grupo de pessoas realizava a travessia de um rio. De repente uma delas começou a fazer um furo no casco do barco. Logo, as outras disseram: “Ei! Está louco! O que você está fazendo?” E ouviram a resposta: “O que vocês têm com isso? Estou abrindo um buraco debaixo do meu assento.” E todos disseram: “Acontece que estamos dentro do mesmo barco!”

É assim mesmo. Muitas situações só podem ser compreendidas por quem está dentro do mesmo barco. Isso também se aplica à obra missionária entre os indígenas.

Um velho adágio popular já afirmava: “O que os olhos não vêem o coração não sente.” Por esta razão, reafirmo: Nada como estar DENTRO DO MESMO BARCO.

Um tempo atrás pude sentir isso na pele! Saímos de Anápolis para uma longa viagem. Silas de Lima e eu nos dirigimos ao extremo norte do Brasil, para visitar as equipes de missionários que atuam entre dois povos indígenas: Waiãpi e Galibi. Para chegar lá há muitos meios de transportes. Mas, uma vez na região, para alcançar as aldeias, só um o barco. Em muitos lugares no norte do país as estradas são os rios e os igarapés. O meio de transporte é único o barco. Quem já fez uma viagem dessa poderá visualizar o que eu narrarei a seguir.

O dia amanhecia e já estávamos completando o restante da viagem até o rio. Depois de muitas horas de ônibus, avião, trem, toyota, finalmente chegamos até o rio. Ali num barco a motor, conhecido na região por “voadeira”, subimos o riozinho até a base Remanso, nas proximidades de uma aldeia do povo Waiãpi. Estávamos nove pessoas, seis missionários, atuantes na área, um garotinho, filho de um dos casais e nós dois visitantes. Isso tudo, além das compras e bagagens. O riozinho faz justiça ao nome, especialmente na época do estio. Ele é estreito e raso. Muitas pedras surgem perigosamente e centenas de árvores tombadas no rio, tornam a viagem um tanto emocionante. Sempre há a expectativa de bater em alguma pedra, enroscar em algum tronco, ou até mesmo do barco virar.

Fizemos esta viagem durante o dia, com calma e tempo suficiente. Todavia, os missionários têm de viajar a noite, às pressas, levando algum índio grave-mente enfermo. E essa é apenas uma das muitas dificuldades do ministério.

Depois de alguns dias retornamos ao rio. Mas agora um outro rio, outro barco e mais uma longa viagem com outra equipe de missionários. Depois de 12 horas de viagem de Macapá ao Oiapoque, 600km, sendo 500 deles de estrada de terra, subimos o rio Oiapoque. Conosco estava parte da equipe de missionários que atua entre o povo indígena Galibi. O barco era maior e o desafio também! Depois de muitas horas no rio entramos no mar, no local conhecido por Ponta do Mosquito, para encontrar a foz do Rio Uaçá e subir até a Aldeia Kumarumã, do povo Galibi.

Nessa época a grande preocupação é com a maré: enchente ou vazante. O mar, a lua e as marés têm grande influência na navegação nesta região. Qualquer engano pode significar muitas horas perdidas. O barco pode encalhar ou bater em alguma pedra. Um grande susto ou um naufrágio não são descartados na viagem.

Somos gratos a Deus, pois nem um nem outro nos ocorreu. Foi muito bom chegar até a aldeia Kumuramã! Pudemos ver ali o que Deus tem feito através dos missionários. Ouvimos crianças pequenas entoando cânticos enquanto brincavam, vimos na igreja o fervor dos nossos irmãos Galibi nas orações, nos hinos e na pregação da Palavra de Deus.

Graças a Deus! Entre os Galibi há uma igreja estabelecida. O povo Waiãpi ainda não tem, mas há alguns salvos. São bênçãos recebidas e vitórias obtidas pela Graça de Deus, mas com muita luta, dificuldade e sofrimento. Ninguém pode calcular o custo, a não ser que esteja DENTRO DO MESMO BARCO. Todavia, o Senhor Jesus tudo vê, acompanha todas as situações e opera soberanamente. Porque Ele sempre está lá, junto, para sempre… DENTRO DO MES-MO BARCO. “… e eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos.” Mt 28.20b

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